sexta-feira, 20 de abril de 2012

A OCASIÃO FAZ O LADRÃO



Ah o meu amigo X...  Há quanto tempo não o via!  Vou chamar-lhe X para preservar-lhe a identidade já que os acontecimentos que vou relatar tratam de fatos não muito comuns e até imorais.  Pois bem, encontrei-o num shopping ontem à tarde, justamente num shopping!  Eu não o reconheci de imediato, ele é que me viu e, de longe já abriu o sorriso para vir cumprimentar o amigo.  Estava um pouco mais gordo e mais velho, assim como eu, mas mantinha o mesmo sorriso jovial de sempre.  Eu depois de um instante logo o reconheci e imediatamente emendamos um bate papo de velhos amigos.  Fato este que me fez relembrar o acontecimento que dá nome ao conto, mas primeiro permitam que eu vos faça uma breve introdução a respeito X.
            X havia estudado na mesma escola que eu durante o colegial e era um pouco mais velho do que eu.  Morávamos muito próximos e consequentemente tínhamos uma forte amizade, de modo que passávamos muito tempo juntos.  Tínhamos nosso próprio time de futebol, o Estrela Azul (numa outra oportunidade contarei a história do Estrela Azul), andávamos juntos para todo lugar, fazíamos festas, ás vezes conseguíamos pegar umas garotas mas naquela época não era fácil.  Até por que éramos muito tímidos e desengonçados e como todo mundo é; já foi ou será adolescente um dia saberá  entender muito bem o que é que eu estou falando.  Depois cada um seguiu seu rumo na vida, eu fui estudar literatura, casei, descasei, casei de novo, tive filhos, assim como X que me contou que a virada em sua vida aconteceu quando ele conheceu sua atual mulher cujo nome creio não ser necessário narrar aqui.  X me contou que havia trabalhado por seis longos anos no departamento pessoal de uma metalúrgica, emprego que largou para agenciar a mulher e uma série de sites pornôs na internet!  Entre outras coisas era também dono de uma sex-shop ali mesmo no shopping onde estávamos e dono de uma produtora de filmes pornôs.  X sempre foi meio maluco mesmo!  Uma figura!  Contou-me que tudo havia começado quando ele resolveu por a mulher pra trabalhar – ela dá o rabo e eu é que encho o bolso háháháháháhá – e o pior é que o cara me falava isso como se fosse a coisa mais natural do mundo!  Dá prá acreditar?  X me explicou que não esquentava por que ela também permitia que ele saísse com outras mulheres e que ele também participava de alguns vídeos com ela e com outras mulheres, enfim, aquilo tudo me pareceu ser uma putaria total.  Mas X parecia estar muito feliz e se dando bem naquela vida incomum.  Deu-me um cartãozinho e me disse que em breve seriam sorteados alguns internautas para participar da gravação de um vídeo com a mulher dele, mas que sujeito mais espirituoso!  Eu respeitosamente guardei o cartãozinho com a intenção de jogá-lo fora depois para não ter conflitos com minha mulher em casa.
            Logo em seguida o próprio X acabou relembrando o episódio que agora vos relato:
            Era um domingo e nós passeávamos pelo shopping na esperança de encontrar algumas “minas”, que era a mais nova gíria que usavam no começo dos anos noventa (ou final dos oitenta) para se referir as garotas. O shopping também era novo na cidade e nós éramos uns bobocas punheteiros doidos prá pegar mulher.  Aquilo tudo era uma novidade na época, o shopping, as lojas, a possibilidade de arranjar umas namoradas, enfim.  E nós éramos aventureiros sedentos por novidades.  Curtíamos Guns and Roses, Metallica, Alice In Chains, Legião Urbana, Engenheiros do Hawai; essas coisas. Jogávamos super nintendo até acabar com as digitais dos dedos.  Éramos doidos prá ter uns tênis de marca, mas nossos pais só compravam aquelas falsificações fajutas e nós tínhamos que usar por que, afinal não tínhamos outra coisa para calçar.  Íamos à pé mesmo ao shopping por que ele não ficava muito distante do bairro onde morávamos.  Naquele domingo o shopping estava praticamente vazio e nós perambulávamos por ali jogando conversa fora e dando uma espiada nas montras que exibiam as mais novas marcas de roupas de surf daquela época, aquilo tudo era um novidade e tanto prá gente.
            Foi quando, ao se aproximar da porta de vidro de uma daquelas lojas, de repente X notou que ela parecia não estar trancada e chamou minha atenção.  Forçamos um pouco a porta de vidro e ela se abriu.  Fechamos rapidamente a porta e saímos dando risada mas ao mesmo tempo meio assustados.  Então X lançou a ideia do furto no ar e rapidamente nos apegamos a ela.  Demos uma volta pelo shopping e traçamos nosso plano.  X ainda não acreditava que eu teria coragem de entrar lá dentro e surrupiar uns bonés prá gente.  Então combinamos que X ficaria vigiando e eu entraria lá dentro para pegar os bonés.  Ainda estávamos um pouco desconfiados de haver câmeras pelo shopping, mas o fato é que tivemos muita coragem.  E lá fomos nós.  Aproximamo-nos com cautela da loja e esperamos que um pequeno grupo de pessoas se afastasse para pôr o plano em prática.  X se encostou na vitrine e ficou vigiando o corredor.  Eu empurrei as portas e entrei, rapidamente alcancei o boné que eu queria e depois o que X havia escolhido, ainda tive tempo de enfiar a mão por baixo de uma das prateleiras e pegar uma carteira novinha em folha para mim.  Pus o meu boné dentro da calça e escondi a carteira num dos meus bolsos, sai e fechei a porta de vidro com cautela.  Dei o boné a X que o escondeu nas calças e saímos rapidamente de lá.  Afoitos e nervosos descemos a escadaria e nos dirigimos para a saída quase sem falar um com o outro, coisa de louco cara!  Temíamos ser perseguidos por algum dos guardas do shopping mas o fato é que em pouco tempo já estávamos fora do shopping e atravessando a rodovia Raposo Tavares para voltar para casa.  Ufa, que maluquice!  X ria o tempo todo e arregalava os seus olhos enormes e redondos dizendo que ninguém jamais iria acreditar se contássemos a história.  Quando chegamos à casa de X ainda cogitamos a ideia de voltar lá e roubar umas roupas, mas tudo isso ficou somente na conversa, o fato é que não éramos ladrões de verdade, mas apenas de ocasião, como lhes disse.  Éramos razoavelmente inocentes e pouco ambiciosos, tanto que nos contentamos apenas com uns bonés.  Hoje percebo que foi apenas um desses episódios incríveis que se vive na vida.  O fato é que eu ainda tenho aqui comigo o cartão que X me deixou e; quem sabe eu não resolva me inscrever no tal sorteio...


                                                                                                                   Morpheus

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