quinta-feira, 30 de agosto de 2012

AS TROCAS


Este tempo é pátina escorrendo entre garrafas
e musgos entre vapores e sujeiras e mofos e bolores
do comércio
que não para de vender objetos mortos às formigas
que passam e sentem seus cérebros sendo atraídos
através de seus olhos

Impõe-se
      a imagem real
que farta
      a mente de detalhes
inúteis e
      o vômito encontra o ápice

Sei que quando o tempo engolidor de dias se extinguir
arrastando consigo os conflitos todos
e os musgos, as garrafas, as sujeiras, os bolores e os mofos
todas as conexões se encaixaram mecanicamente
no tempo rolando então; não me peça para definir
o que digo e eu não insistirei para você acordar...

Vou apagar a luz e não ver
pássaros de metal sobrevoando o quintal
das pálidas borboletas
Vou fechar meus olhos e esquecer
as permutas e os interesses e o clientelismo tão banal
em negras maletas

Mas num segundo apenas meu, estremeço, reflito

É..., até agora, isto tudo, este poema, não existia
e talvez seja realmente uma bela porcaria
reconhecer sua existência
mesmo que com alguma reticência

no entanto
a estrela de pedra fria foragida entre as noites
permaneceu imóvel
longe do tempo que é pátina
e da luz da vela vacilante

                                                                      Morpheus

 

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

TERCETOS VESPERTINOS



Vespertino momento que nada diz
e eu perdido
entre as pessoas que falam: eu sou feliz

Vespertino momento de inanidade
e eu perdido
pelos cinéreos becos da cidade

Vespertino momento de "por enquanto"
quando tudo e nada
equivalem o mesmo tanto

Vespertino momento que não acaba
e eu perdido
na desastrosa tarde de sorocaba

Vespertino momento crepuscular
onde minha vontade
não tem púlpito nem altar



                                                                         Morpheus

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

PLANTAS NA CIDADE



As vidas se misturam pela cidade e crescem
como raízes
se imiscuindo umas entre as outras e rasgando a terra marrom
e como plantas; se entrelaçam,
interferem umas nas outras
e se abraçam,
se interrompem em rompimentos
que vão rompendo outros segmentos

Como galhos errantes elas crescem querendo luz
e muito cedo um sonho de consumo as seduz,
sempre parece importante ter
e para isso é preciso imbricar-se na metrópole
para encontrar o rumo de um ramo e crescer
com a vetusta árvore que atravessa os séculos


                                                           Morpheus