domingo, 30 de setembro de 2012

DIA DE DOMINGO

           


                 Zanello acordou de repente ouvindo barulhos na sala.  Com seus olhos remelentos olhou para o rádio relógio no criado mudo; nove e meia da manhã.  E então ele se lembrou de que era domingo.  Logo identificou as vozes que vinham da sala, eram seus parentes que tinham vindo almoçar em sua casa.  Aquilo dava no saco, eram insuportáveis!  Sua tia já vinha dizendo; nossa como você tá grande!  Como você cresceu!  Já está moço, ainda tá trabalhando?  Não?  Por que?  Ai coitadinho!  E seu tio idiota só ficava dando risadinhas à toa enquanto seus primos imbecis queriam jogar vídeo game com ele.  Aquilo tudo cozinhava-lhe os ovos, era foda.  Na verdade, qualquer coisa cozinhava-lhe os ovos ultimamente.  Quase nada mais em sua vida era engraçado ou divertido.  Mas tinha que ser rápido antes que viessem incomodá-lo em seu quarto por que os idiotas nem mesmo tinham algum senso de privacidade, então Zanello deu um pulo da cama, pegou a vareta de insenso debaixo da cama, um resto de baseado que estava em baixo da palmilha de seu tênis, um livro com historinhas da Rê Bordosa e correu para o banheiro.  Tapou a fresta da porta com a toalha, acendeu o incenso e logo na seqüência o baseado, fumou rapidamente e deu um boa cagada enquanto ia lendo as aventuras de Rê Bordosa.  Logo vieram bater na porta:
            - To cagando e vou demorar – ele gritou de lá de dentro; mas que saco!  Por que não vão usar o banheiro do fundo?  Não é por isso que essa porra dessa casa tem dois banheiros?
            Zanello passou uma hora e meia dentro do banheiro e sem pressa nenhuma havia terminado suas abluções matinais.  Rapidamente passou do banheiro para seu quarto e trancou a porta.  Vestiu-se rapidamente, calçou seu tênis, pegou seu boné, seu mp3, seus óculos escuros e foi para a cozinha onde cumprimentou todos rapidamente, tomou um gole de café e saiu dizendo que logo voltava.
            Na rua, abriu a carteira, ainda tinha sessenta e sete reais que haviam restado de seu último pagamento antes de haver se demitido por conta própria da empresa maçante onde havia trabalhado por seis longos meses.  Decidiu que iria fumar um baseado na linha do trem, por que afinal de contas era um local bem tranqüilo onde ele podia ficar em paz.  Desceu até lá, mas antes passou na padaria e comprou dois sonhos para ir mastigando no caminho.  Já na linha foi até o local onde havia deixado escondido uma pequena porção de erva uns dias antes, retirou o necessário para um belo baseado, sentou-se numa das muretas próximas aos trilhos e começou a enrolar tranquilamente seu cigarrinho.  Estava ainda se lembrando da noite anterior, muita cachaça, farinha, roles intermináveis, música eletrônica, umas minas bonitas mas burras demais, enfim, tinha acabado a noite sozinho e fumando um baseado para variar.  O fato é que pouca coisa parecia estar fazendo sentido na sua vida ultimamente e ele estava pouco se lixando para isso.  Acendeu o baseado, deu uma boa tragada e prendeu a fumaça que rapidamente atingiu o seu cérebro.  Foi quase como uma porrada, mas depois foi muito relaxante e em pouco tempo já havia fumado o baseado inteiro. Naquele momento nem queria levantar-se da mureta, ligou o mp3 e as guitarras começaram freneticamente, logo surgiu a voz rouca e suja de Lemmy Kilminster gritando Ace of Spades, Ace of Spades, Ace of Spades!  Zanello quase delirava.  Pulou da mureta e saiu caminhando pela linha do trem e era como se estivesse caminhando no ritmo da música.  Caminhou uns duzentos metros até chegar a um cruzamento, então saiu da linha, passou num bar, comprou uma cerveja e voltou para a linha curtindo seu som.  O sol estava pleno no céu, não estava muito calor, ele tinha ainda algum dinheiro, ia ser um belo dia de domingo.


                                                                                                                     Morpheus

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

VERDADES E MENTIRAS



Procuro um poema...

Descubro um poema imbricado em si mesmo
e o desdobro
como um papel que foi muito, muito amassado

O poema diz a verdade

O poema mente

O poema captura as coisas
que estão soltas,
flutuando na tarde quente


                                                     Morpheus