sábado, 30 de junho de 2012

HISTÓRIA DE UM AMOR CANALHA





            Acho que foi em 1998...(hesitação).  É; foi mesmo em 1998, eu me lembro bem que eu já estava muito cansado de tudo naquela época.  Eu havia finalmente decidido parar de me drogar por que aquilo já estava me dando no saco e não estava me fazendo nada bem.  Eu vivia pálido, magro, sem ânimo.  Minha vida não tinha rumo, tudo o que eu fazia era ficar em casa ouvindo Pink Floyd, Raul, The Doors e depois saia pelas ruas procurando alguém que tivesse um baseado no mínimo.  Eu estava cansado da minha família, tinha abandonado os estudos, largado da minha namoradinha, eu não queria saber de trabalhar e tudo que me bastava era algum livro de Nietzche que eu me esforçava muito para compreender e uma garrafa de vinho, enfim, essas coisas.  O ano anterior havia sido terrível para mim, havia sido um ano de tristeza, solidão, a mais absoluta desolação e totalmente preenchido por barbitúricos, alucinógenos, álcool, enfim, nem adianta muito ficar citando os nomes e as categorias de entorpecentes, para que?  Eu também estava de saco cheio dos meus amigos por que ninguém, absolutamente ninguém neste mundo cão me compreendia, nem eu mesmo.  E eu ficava entediado demais com o papo de qualquer pessoa ao redor e por isso eu saia sozinho andando sem rumo ruminando meus pensamentos miseráveis.  Eu não fazia nada o dia todo a não ser ler e escrever obstinadamente.  Eu queria captar alguma coisa em algum lugar, mas não sabia o que, o fato é que nada fazia muito sentido para mim e aos poucos eu ia me afastando cada vez mais das pessoas pelo simples fato de parecerem demasiadamente maçantes.  E apesar de ter tomado a decisão de parar de me drogar, cada vez mais eu caia na rotina de chapar e sair andando pelas ruas tentando imitar Jim Morrisom com todo aquele estilo.  Eu tinha os cabelos compridos, uma jaqueta jeans estilosa e queria andar como se fosse o próprio Jim andando pelas ruas até que alguém gritava - ô viado – e eu ficava puto da vida com aquilo, ninguém sabia quem havia sido Jim Morrisom ou quase ninguém nas redondezas.  Só depois eu iria perceber que apesar de ter sido fodão, Jim Morrisom também havia sido muito imbecil e que tudo o que eu precisava na vida era apenas ser eu mesmo.  O dinheiro era cada vez mais raro e vez ou outra eu fazia uns biscates para poder torrar com cerveja e maconha.  Cheguei a vender uns CDs, uma bicicleta, umas coisas que eu tinha e que achava que eram inúteis, tudo para cheirar, fumar, beber, qualquer coisa que me alterasse a consciência o suficiente para dar a tal “inspiração”, o click, a conexão mental que eu precisava juntamente com todas as coisas que eu lia, ouvia e vivia incessantemente para entrar em contato com a poesia.  Mas ninguém entendia isso, todos pensavam que eu estava simplesmente drogado.  Cara, isso me deixava puto.  De qualquer modo, eu vivia entorpecido e entupido de drogas demais para reclamar com qualquer um sobre qualquer coisa e apenas pensava; foda-se, vou continuar a me concentrar nas minhas sensações e continuar a testar essas possibilidades todas.  Eu, no meu modesto modo de pensar, eu era uma outra categoria de drogado e tudo o que eu queria subtrair daquelas substancias era poesia.  Por isso eu me chateava com outros papos, tudo que não fosse o meu mundo poético era careta, era sem razão, era maçante.  Tornei-me um cara muito mais sombrio depois que descobri As Flores do Mal, de Baudelaire, aquele livro realmente mexeu comigo.  Eu fumava muita maconha sentado na janela do meu quarto e olhando a noite e deixando tudo aquilo fluir em mim para depois, quando sentia a poesia se infiltrando em minhas veias, pegar o caderno e escrever, eram tempos muito loucos.
            Mas como eu dizia, chegou um tempo em que aquilo tudo já não dava o barato mais, tudo aquilo havia se tornado sem sentido.  Além do mais eu vivia louco para dar uma metida e as garotas não queriam saber de mim por que eu era muito feio (feio ainda sou até hoje) e relaxado, enfim.  Por outro lado a maioria das garotas me parecia muito fútil e volúvel, estavam sempre “inseridas no contexto” e eu procurava uma garota que não estivesse inserida no contexto, queria encontrar uma garota com senso crítico, coisa que até nos dias de hoje não é muito fácil de se encontrar.  Os meus amigos maconheiros só se divertiam jogando bilhar e bebendo, mas depois de um tempo com eles aquilo me dava no saco e eu saia, deixava-os.  Ia perambular pela noite.  Eu estava ficando cada vez mais desgostoso da vida e não tinha nem dinheiro para comer uma puta, que vida desgraçada e sem sentido eu levava!  Eu estava ficando louco e não percebia isso.  Estava ficando literalmente pirado com aquilo tudo e me sentia num círculo vicioso, num labirinto sem saída, era foda, acredite!
            Foi quando conheci Laura.  Este era o nome dela.  Tudo começou quando um amigo meu que também estava procurando emprego disse que havia conseguido uns contatos e que, pelo menos durante o período da propaganda eleitoral a gente ia ter um emprego e uns trocados para gastar.  E lá fomos nós trabalhar como cabos eleitorais, emprego temporário e sem aspiração para nada mas que serviria para pagar umas noitadas pelo menos.  E foi lá que a encontrei, Laura.  Ela era morena, mas de uma cor assim, morena meio parda, parecia suja, mas não era suja, era limpinha.  Não era muito alta, lembro-me que ela tinha os dentes muito branquinhos e bem separadinhos apesar de fumar como uma condenada!  E os cabelos dela também eram assim, negros, mas de uma cor negra queimada, fustigados pelo sol, acastanhados e ondulados.  Tinha seios não muito grandes mas deliciosos e uma bela bunda.  Laura não era feia, mas também não posso dizer que era bonita.  A simpatia dela compensava o que faltava de beleza e então ela se tornava uma pessoa bonita, mas era uma vagabunda e alcoólatra, assim como eu.  Éramos dois miseráveis e por isso nos apaixonamos quase que imediatamente, em pouco tempo ela já estava pegando no meu pau e eu enfiava o dedo na buceta dela com gosto, mas tinha um pouco de receio de por o cacete ali por causa de AIDS e essas coisas todas, sabe como é.  E apesar de todos os defeitos que Laura pudesse ter ela era uma boa garota, simpática, inteligente, sabia conversar, não era banal neste sentido.  Mas também não tinha rumo na vida, era mãe de quatro filhos (hoje ela já tem seis), não se importava com nada, tudo o que ela queria saber era de curtir a noite e tal.  Ela gostava de música sertaneja, forró, pagode essas coisas populares e desprezíveis, vivia freqüentando essas espeluncas chamadas de curvas de rio (lugar onde só pára tranqueira); mas era apaixonada pela vida a pobrezinha.  Acho que, no fundo, ela esperava encontrar um grande amor.  Quando nos conhecemos ela namorava um cara e até usava uma aliança de compromisso e nosso primeiro lance foi traí-lo, obviamente.  Alguns dias depois ela já estava terminando com ele por que estava apaixonada por mim e eu imediatamente saquei que tudo o que eu tinha que fazer era dar umas boas gozadas antes que ela se apaixonasse por outro.  O fato é que eu também estava curtindo ela, ela era uma garota legal, apesar de tudo e tudo o que a gente fazia depois de trabalhar o dia todo era sair e ir para algum bar onde pudesse se embebedar e se beijar e se amassar e ficar trocando umas ideias muito doidas que somente eu e ela é que sacávamos.  Certa noite, depois do trabalho, paramos num bar onde havia alguns conhecidos de Laura, estavam combinando de ir para algum lugar e Laura me disse; ei, vamos também.  E eu pensei, foda-se, vamos.  Entramos num fusca e fomos.  Éramos dois casais, nós e uma amiga da Laura com esse tal cara que era o dono do fusquinha.  O fusquinha tinha um puta de um equipamento de som fodido e tocava um funk desgraçado que nos deixava surdos.  Eu nem sabia onde estava indo, estava bebendo e fumando e beijando Laura sem parar o tempo todo.  Paramos num outro bar, tomamos umas cervejas, puxei Laura para um canto escuro, dentro de uma garagem e começamos a nos pegar.  Ela tirou o meu pau prá fora e um carro apareceu justamente naquele momento e justamente naquela garagem.  Imediatamente eu tive que guardá-lo e saímos de lá.  Voltamos para o bar e tomamos mais algumas cervejas, começamos a nos beijar de novo e a rolar pela grama em frente ao bar e todo mundo nos olhava e ria.  Depois de um tempo saímos de lá e um outro casal veio com a gente, estávamos todos apertados no banco traseiro do fusquinha, nem sei como é que cabiam quatro pessoas ali.  O som explodia nos nossos ouvidos: “NÓIA-TREMENDA PARANÓIA-NÓIA-TREMENDA PARANÓIA”.  O fusquinha fazia umas curvas doidas e eu metia o dedo na buceta de Laura e fazia ela gemer enquanto metia a língua na orelha dela e a beijava incessantemente.  Até que chegamos a algum lugar que eu nunca tinha ouvido falar antes, eu estava sem dinheiro e tiveram que me pagar a entrada, que doideira!  Dentro do recinto apenas esses pagodes miseráveis e eu juro por Deus, não havia mais nenhum branco lá, exceto eu.  Branco, usando camisa dos RAMONES, cabeludo, magricelo, usando ALL STAR e o lugar todo repleto de negros sambando. Eles passavam por mim e me olhavam estranho e se perguntavam quem é que tinha trazido aquele cara até ali.  Laura logo foi dançar com o dono do fusquinha enquanto eu fiquei trocando umas ideias furadas com a amiga dela e tentando arranjar um jeito de tomar uma cerveja.  Acabei encontrado um traficante lá da vila no recinto e o cara era o segundo branco além de mim naquele lugar.  Depois de um tempo saímos de lá e quando o dia estava amanhecendo eu estava fodendo Laura de quatro num quartinho da casa do tal dono do fusca que acabou fodendo a amiga dela. Que noite!
            Então eu finalmente tinha conseguido meu objetivo.  Tudo que me restava então era esperar que ela me desse um pé na bunda e encontrasse um outro cara melhor do que eu, mas incrivelmente parecia que ela ainda tinha um afeto por mim.  Sem contar que o ex-namorado dela vivia pelas redondezas sempre farejando uma possibilidade de fodê-la também.  Nesse mesmo tempo eu também ia dando um jeito de pegar a amiga dela que, diga-se de passagem, era outra putinha também.  Ela já tinha prometido que ia dar para mim, bastava surgir a oportunidade e o momento e; não sei, acho que Laura ficou sabendo disso ou ela contou a Laura, não me lembro muito bem, o fato é que Laura ficou puta da vida comigo e terminamos.  Ai eu comecei a pegar a tal amiga dela, Gislaine, uma negrinha muito gostosa.  Mas isso só durou uns tempos, logo eu e Laura estávamos nos amando novamente.  Escrevi um poema para ela chamado “Afugentando Sonhos” e ela ficou tão doida que acho que quase mijou na calcinha naquele dia.  Lembro-me que estávamos na rua quando lhe falei sobre o poema e ela quase teve um treco, me jogou contra o muro e exigiu que eu mostrasse para ela.  Laura apreciava essas coisas, era uma mulher delicada e de muita sensibilidade e inteligência, apesar de não ser muito culta.  Um dia, logo depois de sair do trampo, paramos num boteco, pedimos umas cervejas e ficamos trocando umas idéias loucas, daquelas idéias que somente a gente mesmo é que entendia.  Pedi um copo americano de conhaque com limão (eu curtia muito conhaque com limão e Laura gostava de tomar cerveja com sal), tomamos umas cervejas e continuamos um tempinho por ali conversando e se pegando.  Então eu tive a ideia de levá-la para casa e ela imediatamente topou.  Nos fundos da casa onde eu morava havia uma edícula de um cômodo e um banheiro onde minha cachorra dormia e onde eu tinha planejado fodê-la.  Foi delicioso.  Pus ela de quatro e meti gostoso, foi lindo.  Laura ficou surpresa por eu ter chupado a xoxóta dela, parece que nenhum homem antes a havia tratado daquele jeito.  Mais tarde quem iria se escandalizar com isso seria Gislaine que, ao saber disto iria me dizer que só me daria se eu não chupasse a xoxóta dela, não sei muito bem qual era a encanação com isso mas, para ela parecia quase um tabu.  Acho que não estavam acostumadas a amar daquele jeito e neste quesito eram muito limitadas ao coito em si.  Certas habilidades sexuais podem parecer escandalosas para algumas mulheres que não são muito criativas ou excessivamente reprimidas quanto ao sexo.  No dia seguinte, logo pela manhã fui até a padaria, comprei uns pães, mussarela, presunto e preparei um belo café da manhã para ela.  Mas enquanto Laura estava à mesa tomando o café eu a observei durante algum tempo enquanto ela se alimentava e pensei comigo que aquilo tinha de acabar logo.  Pensei isto em silêncio, mas jamais tive coragem de abandoná-la.  Ainda bem que ela era mais sensata do que eu e, de certo modo, creio que pensava o mesmo.  Já não havia mais nada para ser feito entre nós e Laura também havia percebido isso.  Tanto que pouco depois disso ela terminou comigo de uma vez e eu enchi a cara de conhaque e a mente de fumaça e chorei e reclamei e vomitei e contei esta história milhões de vezes para mim mesmo enquanto rastejava pelo chão e suplantava todos estes sentimentos ignóbeis.  O fato é que estas coisas todas me deixaram uma boa bagagem na vida, são materiais de reflexão em alguns momentos por que, afinal, isto tudo me tornou um cara muito mais experiente para relacionamentos posteriores. Evidentemente não aconselho ninguém a agir como eu por que certas atitudes como as minhas são apenas para quem tem peito de aço, nervos de ferro e coração forte mesmo.  Gislaine?  Não comi, me escapuliu pelos dedos; outro dia a vi passando pela rua com uma criança no colo, acho que nem me reconheceu.


                                                                                       
                                                                                              Morpheus 

quarta-feira, 20 de junho de 2012

DOCE


Depois de alguns dias o sol finalmente voltou
sem pedir
nem exigir

Apareceu pelas quatro da tarde iluminando
e aquecendo as terras que esperavam seu calor,
clareando toda a dicotomia do ser
sem agredir
sem proferir

As boas coisas da vida
são para poucos privilegiados
ou poucos privilegiados
é que sabem aproveitar as boas coisas da vida?


                                                                Morpheus