sexta-feira, 30 de março de 2012

DISPARATES

Na pressa do passo
expresso o passado
lembrança...

Expresso é o passo
não pondera o passado
nem expressa, não expressa
tem pressa

e espasmos sem peias
das pontes sem portas
e tudo que exortas
confortando o coração
na pressa a sublimação

a pressa
expressa
passa
esquece

esquece o Estado falido
que não ajuda e até atrapalha

Espalham-se pelas ruas como um líquido por frestas
as crianças sem herança
e a pressa
não interessa
mas é sempre essa
a pressa

Amargos ferimentos nos muitos contratempos
e as baratas trêmulas
lutando pela vida
assustando Dona Cida
que eu nem conheço
mas que reconheço
ser alguém muito melhor do que tudo que escrevi

tenho pressa
por que já nada me interessa
nem mesmo essa
guria que se estressa

então me expresso
apressado
mas não me estresso

ora, ora...

                                                                Morpheus

terça-feira, 20 de março de 2012

NA MANHÃ QUENTE

Acordo na manhã quente com o coração luxurioso
sentindo a dureza pétrea de meu endurecido falo
Imediatamente encontro teu rabo e te empalo
num movimento fremente, louco e muito gostoso

Mordo os seios com a fome primitiva e ancestral
sou escravo e o desejo da carne me governa
Retiro o falo e o enfio com prazer noutra caverna
e cavo, procuro o gozo para saciar o desejo infernal

A jactância da delícia é meu deleite
ela quer, eu sei que quer
Eternamente a quentura do meu leite

O atrito é cada vez mais evidente
e sem mais poder me conter
Gozo na buceta minha porra quente

                                                                           Morpheus

sábado, 10 de março de 2012

GATO E RATO

            Acordo de madrugada ouvindo uns ruídos estranhos.  A boca seca.  Ressaca, um calor infernal.  Parece que tem alguém na garagem.  Levanto-me de repente, vou até a cozinha de onde posso avistar a garagem pela janela.
            Há um homem na garagem.  Um ladrão filho da puta!  O susto faz meu coração disparar, fico tremendo.  O desgraçado está fuçando nas minhas coisas.  O que procura?  Fico observando-o durante algum tempo sem saber muito bem o que fazer.  O elemento parece ser um pouco mais baixo que eu e naquele calor dos infernos parece estar usando uma jaqueta.  Chamo a polícia?  Ando devagar até o armário enquanto um arrepio percorre minha espinha, abro a gaveta devagar e começo a procurar uma faca e então ele, de lá da garagem para de fuçar nas minhas coisas.  Levanta a cabeça, olha para os lados, parece ter ouvido o barulho que fiz na gaveta.  Meu coração dispara, mas não me importo, continuo procurando a faca sem tirar os olhos do filho da puta que parece se esforçar para ver através da janela.  Estará me vendo?
            Encontro a faca!  Estou arrepiado de medo e de raiva.  Maldito desgraçado, por que veio me roubar?  Ele está parado lá do outro lado, em silêncio, olhando através da janela, acho que já percebeu que eu estou na cozinha.  Por um instante, parece que estamos nos medindo.  Aproximo-me da parede e acendo a luz da garagem.   Ele desaparece pelo portão da frente.  Rapidamente encontro a chave e abro a porta, saio lá fora suando como um porco e morrendo de medo e de raiva.  Me aproximo com cautela do portão.  Seguro a faca com força.  Ele pode estar perto do muro, do lado de fora, apenas esperando para me acertar.  Devagar eu abro o portão pronto a golpeá-lo com a faca.  Mas ele parece não estar por ali.  Saio na calçada.  Ele está na esquina.  Parado.  Será que espera que eu volte para dentro e chame a polícia?  Será que pensou que eu ficaria com medo dele?  Mas que diabo!  Ele está parado lá, me encarando.  Filho da puta!  Não tem medo?  Pois bem, eu também não.
            Começo a andar na direção dele.  E ele começa a andar de costas sem deixar de me encarar de longe.  Começo a andar mais rápido e ele se vira e começa a andar mais rápido também.  Começo a correr e ele também começa a correr.  Ele corre na direção de um ponto de ônibus, mas não há ônibus nenhum àquela hora da madrugada.  E eu o persigo por uns duzentos metros correndo atrás dele e ele fugindo de mim.  Até que ele dobra uma esquina.  E eu vou ficando cansado, estou morrendo de sede.  Ressaca desgraçada!  Chego até a esquina e ele está parado lá no meio da rua, uns cinqüenta metros à minha frente.  Encosto uma das mãos no muro, respirando a grandes haustos enquanto o desgraçado me observa de longe.  Parece estar sorrindo.  Mas não consigo enxergar direito seu rosto.  Estou quase sem ar.
            Então de repente ele começa a andar na minha direção.  E eu começo a andar de costas para trás sem deixar de encará-lo.  Acho que estou cansado demais para encará-lo, ou estaria apenas com medo?  Ele começa a andar mais rápido.  E eu também começo a andar mais rápido.  Ele começa a correr e eu também começo a correr.  Meu Deus do céu, o que estou fazendo?  O maldito filho da puta está me perseguindo!  Mas eu corro, corro como nunca antes corri em minha vida, corro sem olhar para trás.  Corro até o ponto de ônibus e quando dou uma olhada para trás ele desapareceu.
            Desapareceu?   Para onde terá ido?  Estou pingando de suor.  Sento-me no ponto de ônibus para tomar um ar e recuperar minhas forças.  Olho incrédulo para a rua de onde vim correndo e eis que ele surge novamente na esquina.  Está brincando comigo; idiota!  Quer ver se tenho coragem.  Mas agora eu decido não fugir mais, vou lutar com ele, matar ou morrer.  E fico ali esperando, mas ele não vem.  Apenas observa de longe.  Que coisa!  Mas o que esse desgraçado quer afinal de contas?  Qual é a dele?
            De repente ele recomeça a andar na minha direção.  Levanto-me do ponto de ônibus e o encaro.  Ele pára.  Estamos num impasse.  Filho da puta!  Ele permanece parado, parece estar esperando que eu corra atrás dele de novo.  Por quê?  Faço sinal com as mãos para que ele venha me encarar.  Mas ele não vem.  Continua ali parado o desgraçado.  Continua me encarando de longe.  Estará esperando que eu corra atrás dele de novo?
            Então ele se vira de costas e vai embora.   
                                                

                                                                                        Morpheus