quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O ASSALTO


  Seis e trinta e quatro da manhã.
  Um chuvisqueiro manso acariciava os telhados da cidade anônima enquanto a luz do sol começava a imiscuir-se em finos feixes dourados por entre os ralos pingos de chuva trazendo um novo dia.  Poucas pessoas perambulavam pelas ruas àquela hora.  Eram ruas soturnas do centro industrial de uma pequena cidade qualquer do interior onde coisas sem importancia costumam acontecer o tempo todo.  Ruas onde se pode caminhar tranquilamente sem se dar conta das coisas ao redor.  E entre as poucas pessoas que caminhavam por ali àquela hora; a figura obscura de um homem nos revelará que a coragem nem sempre conduz à vitória e ao sucesso.  Caminhava de cabeça baixa mas não de modo subserviente; metido numa capa de chuva preta e usando um boné preto sem estampa ele era apenas uma sombra, um espectro.  Na cintura trazia oculto um trinta e oito prateado.  Parecia sereno, taciturno.  Flanava.  Mas tinha o coração convulso e uma mente atormentada.  Estava prestes a praticar algo novo, algo que nunca antes praticara na vida.  A demora o deixava ainda mais nervoso, pois teria de esperar ainda cerca de trinta minutos até que finalmente começasse a colocar em prática seu plano.  Passara a noite em claro, pensando, planejando, imaginando como faria.
  Entrou numa padaria que acabara de abrir as portas; fazia frio, uma mulher baixa e meio gorda veio do outro lado do balcão:
 - Pois não.
 - Um café preto - pediu com a voz rouca.
  A mulher o serviu:
 - Mais alguma coisa?
 - Não, obrigado.
  Pegou o copo e tomou um gole assoprando:
 - Quanto é?
 - Cinquenta centavos.
  Meteu a mão no bolso.  Tirou umas moedas.  Contou e colocou sobre o balcão.  Depois tomou outro pequeno gole e pediu um fósforo.  Ela trouxe.  Ele acendeu um cigarro, colocou a caixa de fósforos sobre o balcão e saiu deixando um restinho de café no fundo do copo.
  Andou mais alguns metros calmamente até que a chuva começou a engrossar e ele parou debaixo do toldo de uma lojinha que ainda estava fechada.  Olhou no relógio: seis e quarenta e três, restavam pouco mais de quinze minutos agora.  A chuva engrossava ainda mais e por um momento ele pensou realmente em desistir.  Olhou ao redor e contemplou a desolação da manhã chuvosa, as pessoas dormiam.  E ele estava ali.  O que é que estava fazendo ali?  De repente enterneceu-se com lembranças.  Ao sair de casa deixara mulher e três filhos dormindo.  Dormindo como todas as pessoas que costumam dormir nestas manhãs chuvosas e preguiçosas.  Ao mesmo tempo pensava que o golpe que estava para dar seria justificado exatamente por causa deles, para o conforto deles e, ao mesmo tempo, lá no fundo de seu ser algo que lhe dizia que isso era apenas uma desculpa boba que havia inventado para justificar uma atitude miserável e errônea.  Mas isto era algo que ele ignorava.  A revolta que sentia se sobre punha a isto.  A revolta era mais forte.  Não suporta mais ver seu filho caçula olhando para a televisão e sonhando com brinquedos que ele jamais poderia dar.  Não suportava mais ver sua filha mais velha de treze anos vir ao seu encontro, quando ele voltava para casa, perguntando-lhe aflita se ele finalmente tinha conseguido o tão sonhado emprego, se tinha conseguido marcar uma entrevista, se ele tinha conseguido encontrar uma esperança em algum lugar.  E então tudo que lhe restava era abaixar a cabeça com gravidade e dizer que não.  Talvez não fosse mesmo a repetição desta cena que o fizesse sofrer tanto, mas talvez ele estivesse se revoltando contra uma coisa muito maior.  Ás vezes ele sentia isso, mas não entendia muito bem o que se passava.  Era como se estivesse se revoltando contra uma coisa que estava nas ruas por onde andava ou nos noticiários do horário nobre.  Alguma coisa dentro dele não o deixava em paz.  Alguma coisa o fazia sentir-se de mãos atadas diante dessa coisa que chamavam possivelmente de desigualdade social.  Mas o que era isso?  Ás vezes chorava escondido num canto qualquer da casa, mas chorava de revolta que roía todo seu ser.  Também havia momentos em que pensava que as coisa poderiam realmente mudar, talvez com um pouco de sorte e a ajuda de Deus.
  Sua vida não tinha, até aquele momento, sido muito diferente da vida da maioria da população excluída.  Nascera negro numa favela populosa, crescera pobre e acostumado a privações.  Concluiu os estudos até onde pôde e até onde suportou e isto significava a quinta série.  Começou a trabalhar numa pequena fábrica perto de sua casa e a enveredar-se pelos caminhos da embriaguez e da noite.  Na adolescência fumou muita maconha, cheirou muita cocaína, bebeu, fez arruaça, se envolveu em algumas brigas até que; certa noite num pagode na favela vizinha conheceu Irene.  Ela era mesmo uma louraça de virar a cabeça de qualquer um , tinha seios grandes mas não exagerados, pernas grossas e bem torneadas, era alta e tinha um rosto pueril, porém um jeito de olhar e uma voz de mulher madura.  Irene sambava como uma negra pois também trazia a África no sangue.  Irene sambava como ninguém e chamava a atenção de todos.  Tamanha foi sua surpresa quando ela o encarou de longe rebolando ao som do batuque e piscou.  Piscou logo para ele, um pé rapado que, como dizem, nem tinha onde cair morto.  Depois conheceram-se e em quatro meses de namoro ela engravidou.  Então casaram-se e foram morar em dois cômodos nos fundos da casa dos pais de Irene.  Aquela tinha sido uma boa época e ele se lembrava com saudades daquele tempo em que trabalhava o dia todo como soldador na fábrica e ao final da tarde vinha para casa, para sua mulher, para sua Irene.  Vez ou outra passava no bar, tomava umas cervejas e até fumava um baseado com os malucos.  Mas logo as dívidas começaram a se acumular ao mesmo tempo em que chegava o segundo filho e os desentendimentos com a família de Irene.  Então ele alugou uma casa pequena de três cômodos e foi fazer a vida, cuidar da sua própria família.  Um ano e meio depois vinha o terceiro filho e a demissão do emprego que caira sobre sua cabeça como um balde de água gelada.  Tiveram que voltar a morar na casa dos pais de Irene por que uma crise nas indústrias o tornara mais um entre os milhões de desempregados que se espalhavam por todo o país.  E ele era apenas isso, um ponto na estatística.  Foi humilhante para ele ter que voltar para aquela casa engolindo todo seu orguho e aceitando aquela situação.  Depois trabalhou como servente de pedreiro, ajudante de pintor, cabo eleitoral até conseguir um novo emprego numa outra fábrica como ajudante geral ganhando metade do que ganhava outrora como soldador.  Todo dia comer arroz, feijão e ovo (quando tinha ovo) não fora isso o que esperava da vida.  Na verdade tinha sonhos.  Tinha ambições de realizar muitas coisas, ficar rico.  Mas acabou sendo demitido outra vez e então a situação acabou sendo ainda mais humilhante.  Ter de ser sustentado pela mulher, aceitar a comida, o teto e os caprichos da sogra e do sogro.
  - A fita é fazê um adianto aí parcero!  Tô ligado que cê tem apetite po baguio mano! - dizia-lhe Neneco quando ele ia se queixar ao amigo.  E coragem ele tinha mesmo, mas sabia que esse não era o caminho.  Tentava fortalecer a fé em si de que ainda teria uma chance, acreditava nisto e a agarraria com unhas e dentes se ela surgisse e então tudo mudaria.  Afinal ele tinha uma família, tinha algo que o fazia pensar antes de um cometer um ato radical e perigoso.
  Irene era manicure e o pouco que ganhava os sustentava.  Irene era feliz e não se importava muito com privações por que também jamais conhecera o luxo na vida.  Ela não tinha muitas pretensões e o que a preocupava, de fato, eram as companhias do marido e toda vez que ela tocava no assunto eles acabavam discutindo.
  Todos esses pensamentos e reminiscências misturavam-se em sua mente enquanto ele observava a chuva que agora tornava a diminuir.  Ele olhava para a garoa fina pensando em sua vida e refletindo sobre a maneira como tudo havia acontecido tão naturalmente que tudo parecia já ter sido pré-estabelecido antes mesmo de seu nascimento.  Entretanto, ele agora havia tomado uma decisão.  Agora ele faria o próprio destino e iria até o fim.  Se as coisas não podiam se dar da melhor maneira se dariam da pior maneira.  Se ninguém lhe concedia uma chance neste mundo cão ele mesmo criaria sua própria oportunidade, mudaria seu destino, sua vida e a de sua família, concederia a si mesmo uma nova chance.  Tomaria à força as rédeas de seu destino.  E se fosse preciso abriria o caminho à bala!  Ele mesmo abriria seu caminho na vida ainda que para isso fosse preciso matar um ou dois, ainda que tivesse que tomar na marra aquilo que precisava.
  Olhou novamente no relógio: seis e quarenta e cinco da manhã.
  Olhou para o começo da rua e avistou seu cunhado se aproximando de guarda-chuva em riste.  Olhou para o outro lado e avistou as torres da firma soltando fumaça ao longe entre alguns prédios.  Seu cunhado trabalhava na firma, era o vigia do turno da manhã e iria ser a chave de entrada para ele.  Na outra calçada vinha também um homem alto com longos cabelos claros andando meio torto e seguindo atentamente o vigia.  Era Nariga que também iria participar do assalto.
  Mas quanto mais seu cunhado se aproximva andando lentamente debaixo da chuva, mais ele pensava em desistir, mais ele pensava que não valia a pena.  E ao mesmo tempo pensava que se já tinha chegado até ali já não poderia mais desistir.  Olhou novamente no relógio: seis e cinquenta e um.  Seu coração estava disparado.  A ansiedade era imensa.  Começava a suar frio, suas mãos estavam geladas.  Até que ele não aguentou e deus uns passos na direção do cunhado para encontrá-lo logo de uma vez.  O rapaz fez uma cara de estranhamento ao vê-lo mas cumprimentou:
  - Fala aí Marcão.
  - Fala Zé.
  Zé franziu a testa, ajeitou com a mão quepe na cabeça e perguntou:
  - Tá fazendo o que aí?
  - Tô esperando a chuva passá, vim vê uns tampo aí né, mas... - click - era o ruído de uma arma sendo engatilhada por Nariga nas costas de Zé que, obviamente estava rendido.
  - Fica na boa aí Zé!  Fica tranquilo senão toma pipoco! - ameaçou Marcão sem piedade.
  - Mas que, que... cê indoidode veiz o Marc...
  - Cala a boca! - ordenou Nariga cutucando-lhe as costas com a arma.
  - O negócio é o seguinte, nóis vamo até a portaria, eu e você - falou Marcão - você vai me colocá lá dentro enquanto que os meus parça vão ficá esperando do lado de fora prá entrá depois, entendeu?
  - Mas...
  - Entendeu?
  - Entendi.
  - Então vamo, num esquece que eu tenho um cano aqui comigo e se você dé mio eu pipoco você!  Nariga cê tá ligado sua parte né.
  Nariga fez que sim com a cabeça e deixou eles se afastarem.  O plano era simples; eles entrariam na firma e encheriam um caminhão da própria firma com maquinários e matérias primas que valiam muito dinheiro; depois já tinham um receptador para transformar todo o material que conseguissem carregar em dinheiro vivo.  Nariga conhecia tudo lá dentro, pois trabalhara na firma durante um bom tempo e sabia exatamente o que, como e onde pegar.  Neneco que já os aguardava nas redondezas da firma, iria dirigir o caminhão e depois eles dividiriam tudo em partes iguais, mas eram amadores, marinheiros de primeira viagem.
  Seguiram caminhando devagar debaixo do chuvisqueiro, entraram por uma rua estreita e depois dobraram uma esquina para finalmente chegarem em frente a firma. 
  Olhando-se para os lados, de uma extremidade a outra não se poderia ver onde começava e onde terminava a imponente fábrica.  Era gigantesca com inúmeras torres soltando fumaça ao fundo.  Tinha muitas entradas e portarias mas a que serviria de entrada e que era onde seu cunhado trabalhava não era muito usada e também não era das maiores, fato que a tornava mais propícia para o delito.  Por aquela portaria poderiam roubar e sair sem chamar muita atenção, pelo menos era isso o que esperavam.  Ela tinha um grande portão mecânico azul e do lado direito um portãozinho menor com alguns degraus de pedra que conduziam até a guarita onde o vigia do turno da noite aguardava a chegada de Zé.  Ao avistá-lo junto de um homem estranho, prontamente ficou em alerta e já sacou sua arma esperando pela chegada dos dois.  E este era o ponto, os vigias não eram autorizados a utilizar-se de armas na firma de modo que Marcão jamais esperaria que o outro vigia portasse também uma pistola.  O vigia por sua vez, imediatamente farejou algo errado, pois nunca em seis anos de trabalho Zé trouxera alguém junto de si para o trabalho.  Aproximou-se da janela e abaixou as mãos escondendo a arma.  A medida em que os dois homens se aproximavam da fábrica a tensão aumentava.  O vigia queria acreditar que não havia nada de errado muito embora aquilo estivesse lhe parecendo demasiado estranho enquanto Marcão torcia para que o vigia não fosse estúpido e não tentasse nada para não ter de matá-lo.  Porém ao ver a expressão de medo no rosto pálido de Zé o vigia teve a certeza de que alguma coisa que não era boa estava por acontecer. Engatilhou a arma, engoliu em seco e ficou esperando eles chegarem até o portão.  Marcão sussurava para que Zé ficasse tranquilo e procurasse agir de forma natural:
  - Bom dia Airto - gritou Zé se aproximando com as mãos juntas ao portão.
  - Bom dia Zé - respondeu o outro já desconfiado do lado de dentro - o que esse cara tá fazendo aí junto com você?
  - Que...quem?  Esse? - gaguejou de um jeito meio estranho apontando com o dedão para trás.
  - Tem mais alguém com você?
  - E...esse aqui é o Marcos, é o meu cunhado.  Ele veio ver uns trampo aí.  Pode abrir o portão prá nóis.
  Ailton olhou desconfiado para aqueles dois homens ali parados.  Pensou em apertar o botão e desligar a trava do portão para que eles se aproximassem da guarita e eles pudessem então conversar.  Mas conteve-se e falou:
  -  Você sabe Zé, as normas da firma não permitem a entrada de estranhos sem aviso prévio.
  Zé permaneceu calado, tremendo.  Não sabia o que dizer.  Ele tinha razão, eram as normas e ele também as conhecia.  Um silêncio aterrador e uma forte tensão apoderou-se de todos eles enquanto o chuvisqueiro caia continuamente.  Marcão esticou o pescoço para encarar, por cima dos ombros de Zé, o vigia a uns cinco metros de distância dele lá na guarita.  E por um momento os dois se encararam a distancia numa espécie de reconhecimento e desafio.  Ninguém dizia uma palavra, mas o vigia já compreendera que Zé estava sendo apenas um escudo para o tal homem desconhecido que certamente deveria estar também armado.  Marcos abaixou a cabeça desviando o olhar para o chão e pensando; "que guarda mané, na certa deve tá querendo mesmo é morrer!"  Levantou de novo a cabeça e o guarda ainda o fitava com gravidade.  Olhou para trás e avistou Nariga e Neneco se aproximando no começo da rua.  Zé tremia da cabeça aos pés sem dizer palavra.  Marcos olhou através das grades do portão tentando ver o interior da fábrica com seus enormes galpões e pátios e todas aquelas torres ao longe dispersando negras nuvens de fumaça.  Abaixou novamente a cabeça e; num instante melancólico pensou como seria bom se pudesse estar ali dentro nem que fosse para pisar o chão molhado da firma, olhar para ela e ir embora.  Como seria bom se pudesse estar ali sob outras circunstâncias, como seria bom se pudesse estar ali para recomeçar a trabalhar e ter um novo começo.
  - O que eu faço? - sussurrou Zé.
  Marcos levantou a cabeça e encarou novamente o vigia, mas agora sentia raiva, uma raiva repentina.  Suas mãos suavam, sua boca estava seca, o coração disparado.  Zé tremia:
  - O que eu faço?
  Mas então nada mais foi dito.  Marcos viu o guarda saindo da guarita com o revólver em riste e então não hesitou, levou a mão à cintura para sacar sua arma e ouviu um estouro seco.
  Pá.
  Sentiu uma pontada repentina no peito, uma dor, parecia que haviam cravado um prego em seu torax.  Não consegiu esticar a mão para pegar sua arma.  Olhou para frente.  O vigia estava em pé olhando fixamente para ele com os braços esticados e seu revólver na mão, apontando para ele, soltando fumaça do cano.  Sentiu-se atordoado enquanto Zé fugia correndo.  Sentiu-se sozinho no mundo.  Seu coração se encheu de angústia, sentiu um ódio atroz ao ver o guarda ainda apontando a arma para ele.  Então todo seu ser se encheu de furor e ele disse para si mesmo: "foda-se."  Deu um passo para trás equilibrando-se com dificuldade enquanto o guarda gritava alguma coisa que ele não conseguiu entender.  Era como se tivesse ficado surdo de repente.  Num esforço sobre humano levou novamente a mão na cintura para sacar seu revólver com toda a força de seu ser injustiçado e ouviu novamente dois estouros secos.
  Pá.  Pá.
  E foi como se tivessem rasgado sua carne com um arame de fogo dilacerante numa sensação terrível e tão breve quanto pareceu-lhe eterna.  Compreendeu que fora baleado.  Estava zonzo.  Parecia-lhe de repente que havia um gancho fisgando-lhe a costela.  Sentiu uma fraqueza súbita, uma pontada no peito e caiu de costas no chão.  Não conseguia se mexer, sentia-se paralisado.  A sensação do fio de fogo queimando sua carne e invadindo a escuridão das suas entranhas veio de novo.  Era como um instante eterno mas que na verdade se passou em poucos segundos.
  Passou a mão na barriga e depois a levou até a altura dos olhos constatando o iminente sangue quente escorrendo entre os dedos outrora honrados de chefe de família.  Fechou os olhos.  Entendeu que estava morrendo.  Sentiu seu corpo gelado e o coração batendo descompassadamente e reviu novamente em pensamento a imagem de sua mão ensanguentada.  Sentia dificuldade de respirar.  Abriu os olhos, viu o céu e sentiu os pingos gelados de chuva molhando seu rosto e seu corpo.  Seu braço direito caiu de lado no chão e ele percebeu que já não conseguia movê-lo.  Não pensava em nada, apenas sentia muito frio.  Seu corpo todo estava frio, cada vez mais frio.  Deixou a cabeça pender para o lado do braço, respirando com dificuldade num estertor derradeiro.  Sentiu um gosto de sangue.  Ficou olhando sua mão ensanguentada, caída inerte no chão como um objeto sem vida e a chuva caindo sobre ela.
  Depois tudo se apagou.


                                                                                        Morpheus