segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

DIAS NUBLADOS

Primeiro Dia

            O primeiro dia era para ter sido, apesar de todo o nervosismo e de toda a expectativa de Firmino, bom.  Bom como são todos os primeiros dias em todos os empregos que se consegue, não é mesmo?  Mas infelizmente, no caso de Firmino, as coisas não foram bem assim.  Também não posso dizer que tenha sido ruim; posso apenas dizer que foi um primeiro dia um tanto incomum.  Quando chegou ao restaurante para o seu primeiro dia de trabalho podia-se perceber em seu rosto macilento a típica expressão do homem do campo; aparentemente ingênuo, curioso, um pouco desconfiado talvez mas muito disposto.  Alguém que chegava de peito aberto e com toda a coragem para se meter na vida urbana.  Na maneira introvertida como chegou ao dono do restaurante para lhe falar não se acreditaria que fosse ele, Firmino da Silva Antunes, o sujeito certo para o trabalho.  Teria de usar uma placa nas costas com o endereço do restaurante pintado em letras garrafais, ir até o meio do calçadão onde a plebe se perdia e se encontrava e sair anunciando com brados eloqüentes:

                         “Prato feito a quatro e cinqüenta
                           cabe tanta comida que você nem aguenta
                           vira a próxima a direita no número cento e setenta”

            Foi um susto quando ele soltou o vozeirão no meio do restaurante para mostrar ao chefe que podia e sabia como fazer o trabalho.  O chefe desmanchou-se num sorriso encharcado e disse apenas que o emprego era dele, arrumou tudo, deu-lhe a placa para carregar nas costas, um café da manhã com pão, manteiga e café com leite e o mandou para a rua.
            E lá se foi Firmino com a cara, a coragem e a placa nas costas.  Logo ao sair do restaurante já começou a gritar para todos os lados com sua voz sertaneja, o estranho slogan do restaurante.  Passou por algumas ruas, dobrou uma esquina com toda a felicidade que o começo de uma nova vida e um novo emprego podem trazer.  Ao chegar ao calçadão sentiu-se absolutamente confortável no meio do povo que ia e vinha sem parar, sentiu até vontade de pegar seu violão e cantar uma canção caipira como as que costumava cantar em sua terra.  De vez em quando uma pessoa parava e perguntava a ele sobre o restaurante e ele se desdobrava em explicações e elogios, ensinava o caminho com gestos na maior dedicação.  E assim o dia transcorreu tranqüilo até as três da tarde, hora que havia sido marcada por seu patrão para que Firmino pudesse almoçar e repor suas energias.  Voltou ao restaurante e pôde experimentar o produto que estava oferecendo ao povo, achou que a comida caseira de sua mãe era melhor que a do restaurante porém, agiu com diplomacia e elogiou o sabor da comida.
            Regressou caminhando tranquilamente, olhando ao redor, palitando os dentes, fazendo a digestão e parou finalmente no calçadão para recomeçar seu trabalho.  Deu uma leve tossida, cuspiu para limpar a garganta e recomeçou a gritaria rimada, pois o restaurante também servia jantares.  A alguns metros dali três guardas conversavam e logo que Firmino começou a gritar eles vieram pressurosos em sua direção e ordenaram que ele parasse, pediram os documentos e, de um modo muito impessoal fizeram várias perguntas.  Puxaram sua ficha criminal pelo rádio mas nada encontraram por que afinal Firmino era um homem de bem.  E como não restava nenhuma alternativa para incriminá-lo começaram a inquiri-lo quanto a uma tal licença para fazer a promoção do restaurante no calçadão.  Ele disse que não tinha e quando ia acrescentar algo foi interrompido por outra pergunta sobre o tempo em que já estava ali antes da chegada deles.  Firmino explicou tudo e também falou que aquele era o seu primeiro dia no emprego, mas eles replicaram que isso não interessava a eles e nem a ninguém.  Que era preciso ter licença junto à prefeitura e cadastro junto ao governo do estado para então ter o direito de ser registrado oficialmente em carteira naquela função e consequentemente poder exercer tal trabalho de acordo com a lei e todos os seus infindáveis pormenores.  Mas ele não tinha nada com isso, era seu primeiro dia no emprego, ele apenas cantava algumas músicas sertanejas em sua cidade natal e tinha conseguido aquele emprego apenas por que conseguia gritar bem alto para todos ouvirem e, além de tudo já estava desempregado a dois meses na metrópole, precisava trabalhar, precisava sobreviver.  Os guardas apenas lhe disseram que não podia continuar ali e Firmino pediu para que eles o acompanhassem até o restaurante a fim de prestar maiores esclarecimentos sobre a sua real situação mas eles disseram que não.  Não podiam abandonar seus postos por motivos frívolos.  Os guardas então ordenaram a Firmino que retornasse ao referido restaurante e explicitasse o motivo de seu retorno explicando ao seu patrão que era proibido fazer aquele tipo de promoção sem a licença municipal, registro estadual, qualificação específica para a função que exerceria e; naturalmente o registro em carteira.  E foi exatamente isso o que Firmino fez quando chegou desconsolado ao restaurante, porém o dono do restaurante ignorou completamente tais argumentos e o convenceu a voltar lá e recomeçar tudo de novo, pois os policiais só estavam sendo hostis por que ainda não o conheciam e ainda não tinham se familiarizado com ele, que ele já não deveria temer por que eles já tinham ido embora e ele poderia voltar lá e continuar seu trabalho.  De volta ao calçadão e já pensando que a vida naquela cidade parecia ser muito complicada, Firmino olhou pelos arredores e como não avistou os guardas seguiu a orientação de seu patrão, recomeçou a gritaria novamente e trabalhou até as sete como havia sido combinado.  Quando ia voltando para o restaurante avistou um carro da guarda municipal passando pela rua e ficou apreensivo, fez o sinal da cruz, abaixou a cabeça e seguiu com toda seriedade sem olhar para os lados.  Ao retornar ao restaurante deu com o patrão feliz da vida contando um maço de dinheiros.  Já o patrão ao vê-lo guardou o dinheiro rapidamente e sorriu com o canto direito da boca, Firmino tinha quase certeza que aqueles cabelos negros e lisos de seu chefe eram uma peruca, mas por discrição é claro, não disse nada a respeito disto.  O homem coçou o bigode de um modo estranho e lhe perguntou sobre o dia de trabalho.  Firmino disse que tinha sido bom, que estava gostando e que, fora o episódio com os guardas tudo tinha sido ótimo.  Seu chefe deu-lhe um amistoso tapinha nas costas e desejou-lhe um bom descanso.


Segundo Dia

            O dia amanheceu escuro através do vidro embaçado da janela do pequeno apartamento que Firmino alugara para começar sua nova vida na gigantesca metrópole.  Uma preguiça matinal o manteve deitado na cama olhando para a janela até que faltassem apenas dez minutos para chegar ao emprego; fato que não o atrapalhava em nada pois o apartamento ficava a apenas duas quadras do restaurante.  Por fim ele saltou da cama de chofre e começou a vestir-se.  E enquanto ia se arrumando com pressa, pensava se ia poder trabalhar no meio da chuva ou se teria de ficar talvez preso no restaurante e fazendo algum outro tipo de trabalho por lá.  Chegou mesmo a cogitar não ir ao trabalho naquele dia, mas imediatamente reconsiderou crendo que seu patrão certamente daria um jeito, pois tudo levava a crer que choveria naquele dia.  Firmino imaginou que talvez o homem lhe arranjasse um simplório guarda-chuvas.  E foi quase isto mesmo o que se deu.  Quando avistou Firmino, da frente do restaurante o homem de cabelos estranhamente lisos já segurava nas mãos uma capa de chuva que tinha o nome do restaurante estampado nas costas.  Bem, pelo menos Firmino não teria de carregar aquela placa pesada nas costas.  Firmino sorriu com toda a sinceridade de homem simples e depois de saborear seu pão com manteiga e café com leite com alguma voracidade, seguiu seu caminho dentro da capa.  Enquanto caminhava para o calçadão e olhava para o céu nublado e negro com várias tonalidades cinzentas de nuvens Firmino divagava.  Olhava para o céu através dos edifícios e meditava silenciosamente sobre sua nova vida.  Agradava-lhe muito o fato de sentir-se útil novamente depois de um tempo sem conseguir emprego, alimentava muitas esperanças naquele recomeço longe de tudo.  Mas não deixava de imaginar como estavam as coisas em sua terra natal e começava a embriagar-se numa nostalgia cabocla quando finalmente chegou ao calçadão e despertou de seus devaneios.  Quando começou a gritar esqueceu-se de tudo e até alegrou-se um pouco.  Começou a brincar com as pessoas que por ali passavam, inventou novas maneiras de falar do restaurante e até esqueceu do céu escuro sobre sua cabeça.
            Até que veio a chuva trazendo com ela também o frio e afastando as pessoas das ruas.  Firmino ficou quase sozinho no calçadão, longe de seu mundo e de sua família, longe de sua terra, com frio e melancólico.  Voltou ensopado ao restaurante para o almoço e justamente neste horário foi que a chuva aumentou.  Os pingos caiam fortes e vigorosos.  Então o dono do restaurante disse a Firmino que fosse embora para casa, pois naquele dia não dava mais nada, iria chover o dia todo.  Como não restava mais nada mesmo a fazer, Firmino almoçou e foi embora taciturno enquanto a chuva forte tinha se tornado chuvisqueiro teimoso e contínuo.


Terceiro Dia

            Da cama Firmino observava os tons cinzentos que transpareciam através dos vidros embaçados da pequena janela.  O dia amanhecera nublado mais uma vez e isso o decepcionou um pouco.  Mas Firmino não era de perder tempo, por isso se levantou antes que o despertador começasse a fazer barulho, pois praticamente não dormira à noite.  Foi até a janela e a abriu para ver como estava o céu.  As nuvens escuras tomavam todo o céu escurecendo o dia.  De qualquer modo Firmino ainda sentia muita vontade e disposição para ir trabalhar, passara a noite toda imaginando novas maneiras de falar ao público sobre o restaurante e agora se deparava com a carranca cinérea de um céu sombrio e zangado.  Mas uma brisa leve veio bater-lhe no rosto caboclo e reanimá-lo, uma brisa que o fez lembrar-se de seu pai.  Seu pai sempre dizia que; quando está ventando não chove.
            Fechou a janela rapidamente, vestiu-se e saiu sem lavar o rosto.  Ao chegar ao restaurante foi recepcionado pelo sorriso mais jovial e demoníaco que seu chefe poderia lhe oferecer.  Tomou seu café magro, trocou algumas palavras rápidas e saiu para a rua todo feliz enquanto seu chefe comentava com o cozinheiro purulento que estava ao seu lado:
  - Tá vendo, é por isso que eu contrato esses caipiras, trabalham como cavalos e nunca reclamam de nada.
            Logo que chegou ao calçadão Firmino deu uma boa olhada para os lados para ver se algum daqueles guardas do outro dia estava na área para apoquentá-lo e como se certificou de que nenhum deles estava por perto começou a gritaria.  E assim as horas foram passando tranquilamente até que de repente três deles surgiram Deus sabe de onde e vieram imediatamente na direção de Firmino.  Não eram os mesmos do outro dia mas fizeram quase as mesmas perguntas, um deles que parecia ser o mais velho e usava bigode e já tinha os cabelos um pouco grisalhos, parecia estar no comando enquanto que os outros dois eram apenas brutamontes pouco inteligentes que quase não diziam nada mas que, no entanto, encaravam Firmino com hostilidade a fim de intimidá-lo obviamente.  Indagaram-no quanto a certo alvará e ele mais uma vez disse não saber do que é que se tratava.  Explicaram-lhe novamente as mesmas coisas que ele já ouvira da outra vez, porém com poucas palavras e de modo mais sisudo o mandaram de volta ao restaurante.  Como não havia alternativa Firmino voltou ao restaurante e explicou tudo mais uma vez ao incrédulo e febril patrão que quase arrancou a peruca, arregalando os olhos e fazendo uma pergunta demasiadamente enigmática e estranha para Firmino:
  - Ih!  Que dia é hoje Firmino?
  - Hoje?
  - É; hoje!
  - Hoje é dia...
  - Dia dezesseis chefe – gritou o cozinheiro purulento que se aproximava trazendo um prato que exalava um aroma suculento para seu chefe que esperava com os dedos cruzados uns sobre os outros sobre a mesa.
  - Quantos eram Firmino?
  - Três.
            O patrão de Firmino parecia ter sido mordido ou picado por algum animal no momento em que ouviu a resposta e levantou-se de supetão.  Foi até os fundos do restaurante entrando pela cozinha e deixando-o atônito sem nada entender.  Depois de alguns minutos voltou aparentando mais calma, sentou novamente à mesa, comeu um pouco da comida e depois encarou Firmino e fez uma cara de quem se recorda subitamente de algo.  Colocou algumas notas sobre a mesa e fitou-o novamente dizendo:
  - Pegue esse dinheiro e guarde com você agora.
            Firmino concordou com um gesto de cabeça mas continuou hesitando e encarando-o até que ele disse com força:
  - Agora!
            Firmino pegou o dinheiro em silêncio e o guardou no bolso da calça.
  - Se eles vierem importuná-lo de novo, dê esse dinheiro a eles, entendeu?
            Firmino aquiesceu apenas com um gesto de cabeça.
  - Então pode ir.
            E lá se foi Firmino para o trabalho outra vez.  Entretanto a desconfiança agora pairava em seu pensamento.  Firmino podia ser simples, mas não era bobo, o que era, afinal de contas aquele dinheiro?  Ele não gostava muito daquilo tudo, as coisas de repente pareciam estar ficando diferentes demais para ele e Firmino não gostava de coisas muito complicadas que fugiam de seu entendimento.  Mesmo obstante seguiu desconfiado debaixo daquele céu tão nublado e imóvel enquanto o vento despenteava seus cabelos.  Transtornava-o o fato de os guardas sempre se preocuparem com a presença dele no calçadão e preocupava-o muito a quantia que carregava no bolso.  Contou seis notas de cinqüenta no bolso e logo concluiu que deveriam ser duas para cada um dos guardas, ou seja, cem reais para cada um deles.  Será que o dono do restaurante estava devendo a eles?  Será que essa quantia era o tal do alvará?  Aquilo tudo não lhe cheirava bem.
            Ao chegar ao calçadão respirou fundo, benzeu-se, deu uma olhada ao redor, depois deu uma olhada no relógio e constatou que faltavam ainda quarenta e cinco minutos para o seu almoço então recomeçou seu trabalho ignorando a fome que já começava a incomodá-lo.  Distraiu-se e quando se deu conta novamente já havia passado quinze minutos do horário do seu almoço e como, “graças à Deus” os guardas não tinham aparecido para incomodá-lo, pôde retornar ao restaurante e almoçar.  Durante a refeição relatou ao chefe que os guardas não tinham aparecido desta vez e que tudo tinha corrido normalmente.  O chefe coçou a cabeça e disse para ele ficar com o dinheiro para o caso de eles voltarem a aparecer mas que, se eles não viessem bastava ele devolver-lhe o dinheiro no fim do expediente.  Depois de descansar um pouco Firmino novamente se pôs a caminho do calçadão enquanto o vento vinha frio pelas ruas e o céu permanecia escuro e fechado.
            Pouco tempo depois, quando Firmino já havia até mesmo se esquecido do incidente da manhã e até mesmo da existência dos tais guardas pelas redondezas; sentiu uma mão forte apertando seu braço esquerdo com muita firmeza.  E antes mesmo que pudesse se virar para ver quem era sentiu alguém tocar seu ombro direito e à sua frente surgiu uma policial loura e baixa que foi logo interrogando-o.  Firmino imediatamente ficou com o rosto vermelho como um pimentão, ficou muito nervoso mesmo!  Ele estava cercado por mais dois outros guardas estranhos e essa policial que o tratava como se ele fosse um marginal.  Os dois guardas, um muito magro e alto, o outro mais baixo, forte, moreno; seguravam seus braços e o encaravam com raiva enquanto a mulher que era um pouco mais baixa que ele, apontava-lhe o dedo na cara e falava sem parar.  Firmino estava tão nervoso que mal conseguia compreender as coisas que a mulher falava para ele mas, tentou manter a cabeça fria e ficou em silêncio olhando para ela que lhe pareceu querer ser homem também.  Enquanto ela falava ele pensava já no dinheiro que trazia consigo e só esperou ela pronunciar a palavra “alvará” , para Firmino responder que tinha, que estava no bolso de sua camisa e que se o soltassem seria fácil entregar para ela.  A mulher parou ao ouvir estas palavras da boca de Firmino, pareceu surpreender-se mas não disse nada, apenas fitou-o nos olhos e neste momento ele pôde perceber que ela suava muito logo acima dos lábios e na testa.  Parecia nervosa, eufórica, esquisita.  Então de repente ela enfiou a mão no bolso da camisa dele e retirou as notas.  As exibiu com sarcasmo e certo ar de pilhéria para os outros dois que riram.  Depois contou o dinheiro, deu cem para cada um e guardou cem com ela.  Deu um pisão no pé de Firmino e se aproximou de seu rosto, encarando-o e disse:
 -  Obrigado.
            Então começaram a arrastar Firmino que começou a se bater e a gritar dizendo que era trabalhador, que só estava trabalhando, que não estava fazendo nada de errado, mas bateram em seu rosto e algemaram-no.  Começou a se formar uma platéia de curiosos ao redor deles (é sempre assim), as pessoas olhavam com curiosidade aquela cena enquanto ele ainda se debatia e gritava como um animal capturado.  E enquanto ia sendo arrastado Firmino também se lembrava de sua família, no desespero lembrava-se de sua mãe, de sua terra natal, sua viola, na injustiça que estavam fazendo com ele, oras; mas por que é que estavam fazendo isso com ele?  Por que o estavam prendendo?  Ele não merecia isso, não merecia ser tratado como se fosse um marginal qualquer.  E pensava no dono do restaurante que não aparecia para resolver aquilo tudo, pensava no maldito dinheiro que os guardas tinham embolsado e falava e gritava e batiam-lhe até que, depois de o terem arrastado por um bom pedaço, chegaram ao camburão.  Mesmo obstante, o pobre Firmino ainda resistia, pois seu coração estava cheio de revolta e ele se debatia, chorava e gritava enquanto os guardas se esforçavam para controlá-lo e dominá-lo, mas ele não se entregava.  Firmino gritava que era trabalhador se debatendo esse machucando e chamando a atenção de todos ao redor até que os guardas o obrigaram a ficar de joelhos e o seguraram pelo pescoço enquanto a policial com jeito de querer ser homem o amordaçou!  Jogaram Firmino dentro do camburão como se ele fosse um criminoso qualquer e arrancaram violentamente com o carro.  Enquanto as lágrimas escorriam de seus olhos toscos, passaram pela rua do restaurante e ele pôde ver o dono do estabelecimento colocando uma placa de “precisa-se” na parede.  Firmino não compreendia o que tinha acontecido e nem aceitava tudo que lhe tinham feito.  Mas tudo que ele podia fazer agora era chorar como chora uma criança.
            Jogaram Firmino numa cela fedorenta de onde pôde ver entre as grades, o tempo se abrindo e o sol aparecendo...então não soube se ele vinha para amenizar ou apenas iluminar sua desgraça.  Mas, naquele momento, soube apenas que seu pai sempre teve razão, pois não choveu naquele dia.

                                                                                                              Morpheus