quinta-feira, 30 de outubro de 2014

ERA UMA VEZ NOS ANOS NOVENTA



         - Só tem cerveja bonitão – disse o sujeito com uma entonação melindrosa me olhando com olhos arregalados.  Usava um gel nos parcos cabelos todos penteados para trás e exibia um bigode grosso e nojento que destoava de seu gestual afetado.  Era uma bicha que não fazia questão nenhuma de esconder suas preferências.
Naquele tempo eu era apenas mais um pós-adolescente que estava parando de se drogar porque havia percebido que acabaria se fodendo seriamente se não o fizesse.  Eu tinha acabado de sobreviver a uma infecção pulmonar que me deixara muito deprimido e até um pouco debilitado mas já estava forte o suficiente para sair por aí e começar a aprontar novamente das minhas.  Eram ainda os anos 90, aquela década muito doida onde ser revoltado ainda poderia parecer legal dependendo do ponto de vista.  Eu já tinha desistido de ir a igreja porque não havia ninguém na igreja que pensava por si próprio e eu não era capaz de suportar por muito tempo pessoas que são apenas repetidoras de coisas que ouvem e aprendem (como até hoje não suporto).  Já havia abandonado a escola porque lá também havia muitos repetidores de coisas e pouquíssimos cérebros pensantes.  Eu era muito jovem e como todos os jovens, tinha ainda os hormônios à flor da pele, sem contar o fato de que eu era e ainda sou meio tarado.  Mas o que eu queria mesmo era comer uma bela boceta, coisa que até aquele momento eu só havia feito uma única vez na vida e agora estava doido por fazer de novo.
         Eu tinha feito uns biscates como servente de pedreiro e tinha um dinheirinho guardado comigo para eventuais necessidades.  Naquela noite eu saí de casa decidido a comer uma boceta, nem que isso me custasse alguns reais.  Não frequentava clubes e nem danceterias porque não suportava o modo de vida e o estilo das pessoas tão vazias que costumam estar nesses lugares e nem, tampouco aquela música eletrônica toda que me dava no saco.  Pensei em ir diretamente a um puteirinho que havia ali no bairro dos Pinheiros e onde eu havia estado com meus amigos alguns meses antes; só que na ocasião eu estava totalmente alucinado de tanto cheirar e beber e só fiquei resmungando com uma tal Yvete que ficava repetindo a todo momento para mim; “quer que eu faça uma chupeta?”  Eu me lembro que queria falar de Nirvana e Stone Temple Pilots com ela, queria falar de rock’n roll e de filosofia, queria falar com ela sobre os livros que eu lia, queria falar de poesia e de drogas e de qualquer coisa que não fosse o óbvio.  Até que ela se deu conta de que estava perdendo o tempo dela comigo e saiu de perto.  Eu fiquei lá um tempo ainda bebendo cerveja e fumando sozinho como um idiota.
         Mas então voltando àquela noite, eu acabei indo parar num show de stripers ali no antigo cine Don José.  Foi um bom show com várias gostosas que até se aproximavam da gente e deixavam a gente dar umas boas apalpadelas nos peitos, nas bundas e naquelas bocetas tão trabalhadoras.  Sussurravam no ouvido que por uns trezentos reais até rolava uma metida, mas como eu tinha pouco dinheiro tive mesmo que ir até o puteirinho barato depois do show para ver se conseguia alguma coisa e me livrava daquela porra toda.  E foi lá que topei com o veado no balcão me dizendo que não tinha refrigerante (eu estava tentando evitar o álcool).  Então eu disse-lhe:
         - Então me dá uma cerveja mesmo.  Quanto é?
         - Sete e cinquenta – naquele tempo as cervejas custavam em média dois e cinquenta nos bares comuns, mas nos puteiros eles sempre cobram um preço exagerado, faz parte do esquema.
         Peguei minha cerveja e fui me sentar numa mesinha no canto mais obscuro onde uma mulher fumava em silêncio.  Era bonita.  Uma sílfide, diria Machado.  Eu só posso dizer que era uma putinha muito bonita e charmosa que até tinha um estilinho mais para o rock’n roll (ou pelo menos eu enxerguei isto nela).  O jeito como ela fumava e empunhava o cigarro era decididamente envolvente, sedutor, afinal fazia parte do trabalho dela.  Era muito branca e magra e sua voz era rouca e suave, algo que excitava mesmo.  Tinha cabelos lisos, castanhos, um rosto fino, magro, lábios delicados carmesim de onde as palavras, por mais sujas que fossem tinham ainda alguma docilidade.
         - Meu nome é Sônia – disse-me ela enquanto eu servia-lhe cerveja e sentava-se ao lado – vamo namorá hoje?  Eu disse-lhe o meu nome e perguntei quanto é que custava; ao que ela me respondeu – Cinquenta prá mim e mais trinta do quarto.
         Tive que negociar com ela apesar de eu não ser muito bom em negócios (na época eu era muito bom em metidas e era isto o que importava) porque eu tinha pouco dinheiro.  Ela era compreensiva e sugeriu que fôssemos até umas quebradas atrás do puteiro, próximas da linha do trem onde havia um local ermo para podermos meter a vontade.  Desta maneira eu não pagaria o quarto, já que não tinha dinheiro e ela poderia receber os cinquenta reais livremente; ela facilitou as coisas para mim.  Então nós terminamos a cerveja, eu paguei ao veado do balcão e saí em direção à linha de trem para encontrar com Sônia que daria a volta do outro lado para me encontrar lá na quebrada.  Saí e logo apertei o passo, dei a volta no quarteirão tranquilamente para que desse tempo de Sônia chegar ao local combinado e subi a rua para entrar na linha de trem.  Caminhei uns quarenta metros pela linha e desci o barranco para encontrar com Sônia que já estava lá embaixo me esperando.
         Quando me aproximei ela logo exigiu o pagamento adiantado e foi tirando a roupa para exibir aqueles peitinhos pequenos deliciosos com aqueles bicos marrons levemente avermelhados que pediam para serem chupados.  Sem perder tempo ela tirou o vestido (que era um vestido muito louco e colorido com muitas flores) e já abaixou a calcinha preta transparente para exibir seus pêlos pubianos castanho escuros perfeitamente depilados no formato de um risquinho delgado.  Abaixou-se, abriu minha braguilha e alcançou o meu caralho.  Tirou ele para fora e começou a chupar formidavelmente enquanto eu acariciava aqueles peitinhos pequenos deliciosos.  Quando ela me deixou de pau duro, sacou uma camisinha de sua bolsinha e plastificou meu aríete com uma prática inigualável.  Virou-se e ficou de quatro no chão esperando por mim.     Tirei a bermuda e a cueca, me aproximei e meti com toda a sofreguidão por uns vinte minutos enquanto ela gemia gostoso para me agradar e pedia para que eu metesse com força!  E então finalmente eu gozei com toda a força e urrei olhando para o céu e apertando os peitinhos de Sônia.  Tinha sido uma boa trepada!
         Ela me ofereceu um cigarro e apesar de eu estar quase conseguindo parar de fumar não pude recusar naquele momento.  E enquanto Sônia vestia as roupas eu  acendia o cigarro.  "Não vai guardar esse pinto aí?" ela me disse enquanto pegava minha bermuda e minha cueca do chão para me entregar.  Sônia era gentil.  Me vesti e devolvi o isqueiro para ela que se despediu e foi saindo para voltar ao seu local de trabalho.
         Subi o barranco e parei ainda um pouco sobre os trilhos do trem para contemplar com satisfação as águas sujas e poluídas do rio Sorocaba que corriam lá embaixo ao longe.  Por fim, segui meu caminho pelos trilhos de volta para o bairro onde eu morava.  Uns dois quilômetros à frente topei com uns malucos conhecidos que partilhavam um baseado civilizadamente.  Eu estava tentando parar de fumar, mas não pude recusar.


                                                                             Morpheus

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

INVOCAÇÃO DA POESIA


Invoco-te agora poesia
tal qual um mago
faz surgir uma chama
na palma da mão

Invoco-te

Peço-te que venha por cortesia
surja então neste trago,
pois sou o poeta que te ama
e que te exige em vão

Invoco-te

Como ébrio balbuciando algaravia,
esta invocação eu propago,
sou o bardo que te proclama
com toda a louca emoção

Invoco-te

Como um servo que te corrobora
e ao qual jamais se paga
Faça-se novamente a comunhão
sem ídolos e sem cruz

Invoco-te

E peço-te que vá embora
como a chama que se apaga
e torna escuridão
o que antes era luz

Vai então, pois, agora
que já a minha mente embriaga
e pleno deixas meu coração
a cada vez que o seduz

Vai-te poesia



                                   Morpheus


 



sexta-feira, 10 de outubro de 2014

SOBRE AMAR OU FODER


Se amava não fodia
se fodia não amava

O que acontecia?

Fedia,
se desajeitava

Rejeitava
Esquecia

Saia
Caminhava

Quando fodia
se entregava
gozava

Mas se amava
contemplava
espairecia

Quando fodia não amava
quando amava não fodia



                                          Morpheus