terça-feira, 19 de maio de 2015

VOCÊ


Você diz que conhece Deus
antes mesmo de ter passado pelas saletas de torturas dos infernos

Fala de doutrinas
sem jamais ter pulado o muro da escola para fumar maconha

Você fala tantas coisas
politicamente corretas...você...

Quem é você?

Que mente com tanta honestidade...

Quem é você?

Que me olhava como se me adorasse
e que me tocava como se eu fosse o último dos homens

Te pedi uma noite e você só me deu quatro horas

A vida é muito curta para ser apenas trabalho
e também pode ser muito longa para ser apenas curtição

Felizmente, você se foi,
já não me atormenta mais
e assim eu posso então viver meus próprios tormentos



                                                      Morpheus

sábado, 9 de maio de 2015

O LAGO DORMENTE


Estávamos a espera...

esperávamos a efígie
no porto cinzento do lago dormente

SEM TEMPO

Algo movia-se rasteiro
bisbilhotando um ícone, uma forma, uma palavra
espreitando um estigma temporário
para símbolos latentes
que se movem inconscientes nas águas do lago dormente





(quando percebi que era o meu pensamento fugídio
se esgueirando pela relva, escapando,
crocitando, espiando, atraiçoando-nos
- o pensamento - este pequeno animal
já havia escapulido por entre as folhas e a escuridão)

Figuras sem cor e arautos neurastênicos
anunciando qualquer epíteto inconsistente
que afunda após seu nascimento absurdo
nas águas escuras e pesadas do lago dormente
acotovelavam-se num mutismo desolador

UM FANTASMA

Uxoricídio, fratricídio, matricídio, parricídio, genocídio,
crimes característicos de vidas de plástico...
as névoas repousando sobre dias de sol,
dias vomitados a beira das janelas bisbilhoteiras,
a fome, a sede, a luz

Aranzéis requintados se desfazendo como fumaça
dissimulando atitudes altruístas

os momentos que não deixam vestígios
levando consigo o sentido das palavras

nada,
nada adiantará pois o lago ainda será dormente

E os aranzéis e os crimes todos continuarão
em suas margens mortas
enquanto estamos assistindo a tudo e nos entorpecendo
e consumindo produtos e dizendo obscenidades,
é a vetusta loucura do mundo, é a natureza humana

Minha visão do lago foi um flash translúcido na noite;
sua lembrança será eterna

Tantas histórias apodrecendo, tantas fábulas
mofando sem que ninguém perceba

                           TÍSICA VENTANIA
                          VEM O VENTO DOS
                           HEMISFÉRIOS E A
                          LUZ HOMO SAPIENS
                      OBNUBILA-SE LENTAMENTE

Nulo o momento pelo qual se estendem
as possibilidades das sintaxes absortas no papel
anularem-se sistematicamente trazendo à tona
a síntese de um tronco vazio, oco...


                                                      Morpheus