sexta-feira, 21 de março de 2014

PALAVRA ESCRITA


por palavra escrita que não é falada

já trabalhei dias e dias na enxada
até acordei de madrugada
imaginando mulher pelada,
tantas vezes relaxei tomando um gelada

mas também já tive que catar lixo
depurar renitentemente o melhor sufixo
sem apelar para Deus ou crucifixo

já matei com o pé um estranho bicho
tremer de frio ou de carrapicho
e ser obrigado a ouvir muito bochicho

certa vez entrei numa de copeiro
atravessei esgoto entrando por bueiro
quase vendi um poema a um jornaleiro
quando ainda levava uma vida de maconheiro

mas o fato é que, na verdade, por dinheiro eu não escrevo
escrevo por prazer, por necessidade e por algo como enlevo
por que somente a mim mesmo é que essa poesia eu devo
seja ela em letras mal feitas, belas, feias ou até em alto relevo

por palavra escrita já fiz de quase tudo
até já me fiz de mudo
e depois extravasei em grito agudo

falei tanto que cheguei a ficar rouco
cheguei declamando como um louco
e todos estranharam, pois falo pouco

mas ás vezes eu fujo desta palavra
e me escondo como a unha que na carne se encrava
e o covarde que a sua própria batalha não trava


                                                                            Morpheus






segunda-feira, 10 de março de 2014

REPENTINO


Alguns poemas provêm da embriaguez
eu meto, eu falo, eu escrevo outra vez
que eu me renego,
que eu minto,
que eu rejeito e regurgito

Demorou algum tempo
para que eu percebesse
que essa cidade é pequena demais para mim
e que essa pequenez é grande demais para mim

Que no amarelo poema permanece
a próxima silaba que enaltece
algo muito além da existência de lucro
de credo
na crista
do prado
no trato
do artista

Ora; eu convenço a mim mesmo
eu renego, eu rejeito,
eu chuto, eu cuspo,
eu ofendo, eu me distancio
para me livrar de uma fúria devassa



                                                       Morpheus