Eu criava macacos. No começo era apenas um chimpanzé.
Algum tempo depois eles já eram cinco. E viviam livremente pela casa a brincar,
saltar pelas coisas e pelo telhado, viviam livremente a fazer suas macaquices.
Ninguém sem importava muito com isso, porque, no fim das contas eles eram
macacos muito bem educados por mim e por minha companheira Elisa. A vizinhança
não fazia muitas perguntas e até divertia-se em brincar com eles quando eles
estavam do lado de fora.
Mas um dia, quando estávamos todos na sala, Elisa, eu e
algumas visitas que tomavam café e conversavam conosco, algo aconteceu. Um de
meus macacos apareceu correndo e gritando desesperadamente. Puxava-me pelo
braço e apontava lá para fora. Ele estava querendo me dizer alguma coisa e
então eu fui lá fora para ver o que estava acontecendo e quando lá cheguei tive
uma tremenda surpresa.
A rua estava repleta de cobras. E curiosamente, elas
pareciam estar todas dormindo ou mortas. Talvez estivessem sob alguma espécie
de transe que as deixava letárgicas. Atravessando o portão e tomando todo o
cuidado para não pisar sobre elas eu pude ver que, um pouco mais à frente todos
os meus outros quatro macacos estavam estranhamente sentados de maneira
alinhada com as cobras ao ser redor. Entendi a preocupação de Kim, o macaco que
tinha ido me buscar lá dentro. Ele tinha medo que os macacos fossem picados
pelas cobras.
Mas as cobras, apesar de assustadoras e perigosas,
estavam meio que entorpecidas e não pareciam querer morder ninguém. Estavam
todas enroladas formando círculos misturados a sujeiras e outras coisas que me
pareceram ser fezes (fezes de cobra?) e era como se já estivessem ali há muito
tempo. Foi então que surgiu um caminhão lá no começo da rua e estacionou. Dois
sujeitos saltaram e vieram recolhendo todas as serpentes para a tranquilidade
geral dos macacos e minha também. Depois de terminarem o serviço foram embora e
meus macacos voltaram felizes para dentro de casa. De onde, diabos, tinham
aparecido todas aquelas serpentes? – era o que eu me perguntava.
De qualquer modo, eu já ia voltando para dentro de casa
quando me surgiu uma mulher acompanhada de dois garotos. Um deles na faixa dos
quinze e outro menor que deveria ter uns cinco ou seis anos de idade. Estavam
bem vestidos e rescendendo a perfume, pareciam muito sérios, embora o garoto
mais novo aparentasse estar um pouco enfastiado com aquilo tudo. A mulher tinha
aí os seus trinta e poucos anos, não era bonita, mas também não posso dizer que
fosse feia, usava um grande e redondo óculos escuro, roupas sociais, carregava
consigo uma bolsa e muitos papéis. Disse que vinha me oferecer a verdade
escrita ali naqueles papéis e que era importante que eu tomasse ciência da
verdade. Eu, por educação a ouvi mas disse-lhe que tinha pressa, aceitei um de
seus panfletos e me mandei para dentro de casa.
Juntei minhas coisas e saí para pegar o ônibus que logo
passou. Entrei e fui sentar ao lado de uma garota de longos cabelos negros e
pele muito branca. Lembro-me bem que ela tinha uma pinta do lado da boca bem ao
estilo Marilin Monroe, mas vestia-se como uma dessas garotas que gostam de
funk. Quando eu me aproximei ela olhou para mim e esboçou um sorriso. Fazia
calor e ela usava um short jeans desses muito comuns e então logo ela olhou
para mim e começou a puxar a barra do short para o lado para que eu pudesse ver
os pelos da boceta dela. E então começou a se tocar e olhar para mim de maneira
lasciva! Ela estava mesmo excitada e os bicos dos peitos logo estavam
intumescidos por debaixo da blusa cor de rosa que ela estava usando. Olhei e
pude ver a bocetona ali ao meu lado, ela estava arregaçando para mim e me
olhando como se me desafiasse a fazer alguma coisa. Então começou a
masturbar-se ali ao meu lado me olhando, passando a língua sobre os lábios
e apertando os seios e se retorcendo no
banco. Eu já estava de pau duro e me virei para ela pronto para tocá-la. Ela
percebeu e ficou ainda mais excitada. E então falou com uma voz
gemida:
-
Você quer? Vem...
Mas quando eu levantei o
braço para tocá-la ela parou, olhou pela janela e gritou:
- Meu ponto! (ela estava literalmente no ponto!)
Aí se levantou de chofre, tocou a campainha do ônibus e
pediu licença para sair pressurosa. Eu pensei em ir atrás dela, mas não podia,
por que é que eu não podia? Eu não me lembrava. E fiquei observando ela
desaparecer na rua enquanto o ônibus se distanciava.
Por fim o ônibus chegou ao shopping e eu pude descer e
começar a andar por aqueles corredores sem saber muito bem porque é que eu
estava fazendo aquilo. Mas de repente aqueles corredores pareciam tão antigos,
tão anos 80! E então eu percebi que estava andando no shopping onde meus pais
me levavam, lá estavam aqueles brinquedos de décadas atrás, as roupas das
pessoas, seus cabelos, as lojas, tudo! Os carrinhos de churros, tão deliciosos!
Então, andando por aqueles corredores
acabei encontrando uma porta estranha toda pintada de preto e entrei por ela
para descer uma dessas escadas giratórias e sair num longo corredor cheio de
canos que pareciam ser de água ou esgoto, não sei. O corredor era mal iluminado
por umas luzes que ficavam no teto e na medida em que eu ia andando ele ia se
estreitando e se ramificando em muitos outros caminhos. Estava se tornando mais
quente e úmido quanto mais eu caminhava. Havia muitos pontos em que uns pingos
d'água caiam do teto e uma fumaça branca e espessa que cheirava a cola de cano
se imiscuía pelo ar para depois desaparecer sem motivo.
De repente ouvi um ruído lá atrás e
parei. Fiquei ouvindo durante algum tempo porque tinha a nítida impressão de
que alguém estava vindo pelo corredor. Quem seria? Voltei alguns passos e
fiquei esperando, mas ninguém surgira. Tampouco barulho algum voltou a
acontecer. E esta cena veio a se repetir algumas vezes, não sei quantas, tudo o
que sei é que caminhei um bom tempo por aqueles tuneis até chegar a uma porta
onde se lia em letras garrafais: TWOLLY PERKINS!
Morpheus