sábado, 10 de dezembro de 2016
AO SOM DA SINFONIA DA MADRUGADA
Agora eu já não sofro mais por amor,
agora eu tenho
todo o amor do mundo
Acendo um charuto,
encho minha caneca com chá
e espero que aconteça...
Espero surgir algo que mereça
a digníssima atenção
uma foto,
um estribilho dos anjos,
uma canção que é um rosnar ambíguo,
o escarlate dos teus lábios carnudos
que me beijam,
que me chupam,
que me lambem
e que me dizem
um milhão de vezes todas as coisas
que uma mulher
sempre diz a um homem
Morpheus
sábado, 10 de setembro de 2016
HÁ MAIS DE TRINTA ANOS
o rock'n roll já morreu
há mais de trinta anos
mas eu insisto em ressuscitá-lo nos finais de semana
numa tarde de quarta-feira
ou quando a certeza da impune mediocridade
tenta invadir meus domínios
quando acaba o tesão
quando falta a inspiração
o rock'n roll já morreu
há mais de três décadas
e eu ainda o vejo pulsando em corações adolescentes
Morpheus
terça-feira, 30 de agosto de 2016
TWOLLY PERKINS
Eu criava macacos. No começo era apenas um chimpanzé.
Algum tempo depois eles já eram cinco. E viviam livremente pela casa a brincar,
saltar pelas coisas e pelo telhado, viviam livremente a fazer suas macaquices.
Ninguém sem importava muito com isso, porque, no fim das contas eles eram
macacos muito bem educados por mim e por minha companheira Elisa. A vizinhança
não fazia muitas perguntas e até divertia-se em brincar com eles quando eles
estavam do lado de fora.
Mas um dia, quando estávamos todos na sala, Elisa, eu e
algumas visitas que tomavam café e conversavam conosco, algo aconteceu. Um de
meus macacos apareceu correndo e gritando desesperadamente. Puxava-me pelo
braço e apontava lá para fora. Ele estava querendo me dizer alguma coisa e
então eu fui lá fora para ver o que estava acontecendo e quando lá cheguei tive
uma tremenda surpresa.
A rua estava repleta de cobras. E curiosamente, elas
pareciam estar todas dormindo ou mortas. Talvez estivessem sob alguma espécie
de transe que as deixava letárgicas. Atravessando o portão e tomando todo o
cuidado para não pisar sobre elas eu pude ver que, um pouco mais à frente todos
os meus outros quatro macacos estavam estranhamente sentados de maneira
alinhada com as cobras ao ser redor. Entendi a preocupação de Kim, o macaco que
tinha ido me buscar lá dentro. Ele tinha medo que os macacos fossem picados
pelas cobras.
Mas as cobras, apesar de assustadoras e perigosas,
estavam meio que entorpecidas e não pareciam querer morder ninguém. Estavam
todas enroladas formando círculos misturados a sujeiras e outras coisas que me
pareceram ser fezes (fezes de cobra?) e era como se já estivessem ali há muito
tempo. Foi então que surgiu um caminhão lá no começo da rua e estacionou. Dois
sujeitos saltaram e vieram recolhendo todas as serpentes para a tranquilidade
geral dos macacos e minha também. Depois de terminarem o serviço foram embora e
meus macacos voltaram felizes para dentro de casa. De onde, diabos, tinham
aparecido todas aquelas serpentes? – era o que eu me perguntava.
De qualquer modo, eu já ia voltando para dentro de casa
quando me surgiu uma mulher acompanhada de dois garotos. Um deles na faixa dos
quinze e outro menor que deveria ter uns cinco ou seis anos de idade. Estavam
bem vestidos e rescendendo a perfume, pareciam muito sérios, embora o garoto
mais novo aparentasse estar um pouco enfastiado com aquilo tudo. A mulher tinha
aí os seus trinta e poucos anos, não era bonita, mas também não posso dizer que
fosse feia, usava um grande e redondo óculos escuro, roupas sociais, carregava
consigo uma bolsa e muitos papéis. Disse que vinha me oferecer a verdade
escrita ali naqueles papéis e que era importante que eu tomasse ciência da
verdade. Eu, por educação a ouvi mas disse-lhe que tinha pressa, aceitei um de
seus panfletos e me mandei para dentro de casa.
Juntei minhas coisas e saí para pegar o ônibus que logo
passou. Entrei e fui sentar ao lado de uma garota de longos cabelos negros e
pele muito branca. Lembro-me bem que ela tinha uma pinta do lado da boca bem ao
estilo Marilin Monroe, mas vestia-se como uma dessas garotas que gostam de
funk. Quando eu me aproximei ela olhou para mim e esboçou um sorriso. Fazia
calor e ela usava um short jeans desses muito comuns e então logo ela olhou
para mim e começou a puxar a barra do short para o lado para que eu pudesse ver
os pelos da boceta dela. E então começou a se tocar e olhar para mim de maneira
lasciva! Ela estava mesmo excitada e os bicos dos peitos logo estavam
intumescidos por debaixo da blusa cor de rosa que ela estava usando. Olhei e
pude ver a bocetona ali ao meu lado, ela estava arregaçando para mim e me
olhando como se me desafiasse a fazer alguma coisa. Então começou a
masturbar-se ali ao meu lado me olhando, passando a língua sobre os lábios
e apertando os seios e se retorcendo no
banco. Eu já estava de pau duro e me virei para ela pronto para tocá-la. Ela
percebeu e ficou ainda mais excitada. E então falou com uma voz
gemida:
-
Você quer? Vem...
Mas quando eu levantei o
braço para tocá-la ela parou, olhou pela janela e gritou:
- Meu ponto! (ela estava literalmente no ponto!)
Aí se levantou de chofre, tocou a campainha do ônibus e
pediu licença para sair pressurosa. Eu pensei em ir atrás dela, mas não podia,
por que é que eu não podia? Eu não me lembrava. E fiquei observando ela
desaparecer na rua enquanto o ônibus se distanciava.
Por fim o ônibus chegou ao shopping e eu pude descer e
começar a andar por aqueles corredores sem saber muito bem porque é que eu
estava fazendo aquilo. Mas de repente aqueles corredores pareciam tão antigos,
tão anos 80! E então eu percebi que estava andando no shopping onde meus pais
me levavam, lá estavam aqueles brinquedos de décadas atrás, as roupas das
pessoas, seus cabelos, as lojas, tudo! Os carrinhos de churros, tão deliciosos!
Então, andando por aqueles corredores
acabei encontrando uma porta estranha toda pintada de preto e entrei por ela
para descer uma dessas escadas giratórias e sair num longo corredor cheio de
canos que pareciam ser de água ou esgoto, não sei. O corredor era mal iluminado
por umas luzes que ficavam no teto e na medida em que eu ia andando ele ia se
estreitando e se ramificando em muitos outros caminhos. Estava se tornando mais
quente e úmido quanto mais eu caminhava. Havia muitos pontos em que uns pingos
d'água caiam do teto e uma fumaça branca e espessa que cheirava a cola de cano
se imiscuía pelo ar para depois desaparecer sem motivo.
De repente ouvi um ruído lá atrás e
parei. Fiquei ouvindo durante algum tempo porque tinha a nítida impressão de
que alguém estava vindo pelo corredor. Quem seria? Voltei alguns passos e
fiquei esperando, mas ninguém surgira. Tampouco barulho algum voltou a
acontecer. E esta cena veio a se repetir algumas vezes, não sei quantas, tudo o
que sei é que caminhei um bom tempo por aqueles tuneis até chegar a uma porta
onde se lia em letras garrafais: TWOLLY PERKINS!
Morpheus
sábado, 20 de agosto de 2016
MATINAL
Eu gosto de olhar para o rosto das pessoas
acabrunhadas,
entorpecidas,
ensimesmadas;
com o cenho franzido
e os olhos enrugados apertados
quando sentam-se sob o sol da manhã
na frente de suas casas
para aquecer o corpo e praticar
o nobre estado do não-pensar
olhando para o chão
e erguendo a vista para ver quem chega
tapando o sol com a mão em concha
e respondendo qualquer coisa por obrigação...
Eu gosto de olhar para elas
com suas feições matutinas,
suas expressões enrugadas,
esturricadas,
sua resignação filosófica
e dedicada totalmente a este estado de se deixar estar,
se aquecer sob o sol
por um nada
e para um nada
que lhes pertence tão verdadeiramente quanto suas
próprias vidas
Eu gosto de olhar para o rosto das pessoas
que estão encolhidas,
com as palmas das mãos juntas entre as pernas
sob o sol das nove e tantos da manhã
para esquentar seus corpos
e dizer coisas óbvias
apenas para estabelecer este contato humano tão básico
primitivo...
Eu quero olhar para suas rugas, seu torpor,
seu estranhamento quando levantam o braço para apontar
qualquer coisa
numa tentativa ignóbil de vencer o desânimo,
a neurastenia
de um início de dia
que elas não querem começar
Com o meu silêncio eu gosto delas
e com minha observação eu as acarinho
numa empatia mouca
matutando
no momento matinal
desta comunicação ancestral
sem palavras
Morpheus
Marcadores:
acabrunhamento,
acarinhar,
ancestral,
filosófica,
ignóbil,
manhã,
matinal,
matutino,
neurastenia,
observação,
pessoas,
primitivo,
rugas,
torpor
quarta-feira, 10 de agosto de 2016
PONTA VERDE
Você quer ser o meu amor?
Pois o
ponteiro do relógio já não pára como antes
e o que
agora não se diz
já foi
infinitas vezes pensado
e a
confusão das ideias
é a
confusão das ideias
é a
confusão das ideias
que
escapa da cabeça para pairar sobre os ombros das efígies
lá
fora...
Você quer
ser o meu amor?
Pois o
amor é uma invenção estapafúrdia e facilmente desmontável
quando
não se olha para os casais de namorados na rua
e nem se pensa no que poderia
ter sido
mas não
foi
poderia
ter feito
mas não se fez
poderia
ter dito
mas não se disse
Ora,
permita-me apenas pensar em você
do
mesmo modo que você pensa em mim
e
deixar que as letras
se
agrupem no poema
como
pedras roliças
numa
tigela oblonga
Morpheus
sábado, 30 de julho de 2016
AMOR DA MINHA VIDA
E esse estar no mundo?
Esse papo de ser
humano
insano
decano
do nada rutilante e eclesiástico
Ah! Que a vida me permita ser sarcástico
sem ser desonesto
E que a vida me permita dizer
um milhão de vezes que eu te amo,
minha filha!
Morpheus
quarta-feira, 20 de julho de 2016
REFLEXÕES LATINO AMERICANAS DE UM SUJEITO SENTADO DE FRENTE PARA A RUA
Só se dá real valor a vida
quando se sente a proximidade da morte
Assim como só dá real valor ao dinheiro
aquele que incansavelmente trabalha
para obtê-lo
Só crê em Deus em formato de homem
quem nunca cresceu de verdade,
quem nunca olhou com sinceridade
para o céu à noite
e teve coragem de esperar papai-noel
até perceber que ele não vinha
Quando se é jovem
pensasse que a vida é longa,
que os amores são eternos,
que a poesia é profissão,
que envelhecer está distante...
Fazer loucuras e viver aventuras
também cansa
há momentos em que é preciso paz e retidão
Sentar-se numa manhã silenciosa de terça-feira
com uma xícara de café ao lado
sentindo o sol da manhã
Pôr o lixo na rua
Calar!
No fundo tudo é inútil
e o nosso fim é certo
Nossas ações têm uma relevância absolutamente mínima
Mas eu canto a poesia,
eu canto o amor, eu canto a fé
de que a arte constrói uma coisa;
um sentido a ser destruído como tudo que existe
e há de ser destruído
para se tornar outra coisa que não esta
que agora vos toca
ou passa indiferente
como o barulho do motor de um avião
que passa lá no céu
distante...
distante...
Morpheus
Marcadores:
aventuras,
avião,
céu,
Deus,
dinheiro,
fé,
lixo na rua,
loucuras,
morte,
papai-noel,
profissão,
sinceridade,
vida
sábado, 9 de julho de 2016
SOBRE A INCAPACIDADE DE CONSEGUIR
pensava que podia, mas não podia
então peidava
se lascava
e calava
porque pensava que podia, mas não podia
e peidava
e parava
com o que falava
porque pensava que podia, mas não podia
e peidava
toda vez que tentava
porque pensava que podia, mas não podia
e peidava...
Morpheus
quinta-feira, 30 de junho de 2016
HODIERNO
Não existe outra possibilidade para a vida senão
envelhecer
e constatar isso é irrelevante
Quebrei uma garrafa térmica cheia de chá quente,
fumei um charuto no quarto, de madrugada
preciso arranjar umas mulheres para fazer um ménage à
trois
Avistei um cachorro na rua mastigando um pedaço
de alguma coisa,
ele me olhou nos olhos e fugiu
A conta de água veio muito alta este mês,
comecei a cultivar flores;
vou fazer um terrário...
Morpheus
segunda-feira, 20 de junho de 2016
SOLITÁRIO
Eu sou um solitário
sempre fui, sempre serei
um solitário
Não importa,
não importará
que eu esteja entre meio milhão de pessoas,
que esteja rindo com as pessoas
ou que esteja adaptado num lugar
Não importa quantas mulheres eu possa amar,
quantos amigos,
quantas amantes,
quantos filhos,
quantos animais de estimação
Não interessará
uma afinidade intelectual
mais do que o tempo necessário para uma boa conversa
Eu sou um solitário
sempre fui, sempre serei
um solitário
Morpheus
terça-feira, 31 de maio de 2016
POEMA MINERAL
Essa
certeza pétrea que você carrega consigo eu nunca tive. Essa verdade mineral eu
jamais congreguei. Pois mesmo as rochas mais sólidas esfarelam-se com o tempo.
E tornam-se pó. Para depois, aglutinadas, voltarem a ser pedra no eterno ir e
vir da vida. Férrea é a minha vontade sem verdade. Inexorável é o meu desejo
intransigente de alcançar o que eu quero. E então, tão mineral quanto a vossa
certeza é a minha vontade. O ferro quando enferruja apodrece e desfaz-se,
torna-se pó. Tal qual tu e eu que não somos nada.
Morpheus
quinta-feira, 19 de maio de 2016
VAMPIRO
No inverno eu me escondo do mundo,
eu respiro a fria madrugada,
movo-me entre as sombras
e durmo durante o dia
Sou um vampiro chupador de boceta
e não dou ouvidos a essa gente careta
que não sabe que a poesia
não precisa do preço mercadológico
Morpheus
segunda-feira, 9 de maio de 2016
SILENCIOSO
Agora a lentidão aborta seus instantes opacos
e eu posso
na volúpia da branca folha nadar
aos berros me esgueirar
na tolice do inane e silencioso momento
Aborta a solidão os silenciosos raciocínios mudos
nos mesmos segundos sem ruídos
e eu posso
como néscio homem comercial
divagar em meio à perfumes que não conhecia
Eu sei;
passa o momento assim como um voo
repentino na tarde álacre
das crianças no parque das eternas diversões
Avassaladora ás vezes
torrencial após insípidos dias mecânicos
Eu posso;
eu sei que posso atravessar
todo o condicionamento aziago e nebuloso
que vem quieto por trás do crânio
e rouba os ouvidos
Morpheus
sábado, 30 de abril de 2016
NA FRENTE DO PORTÃO DA MINHA CASA
E lá estava eu tomando aquela cerveja geladíssima e sentado de frente para a rua, sentindo a brisa do noite e pensando em que é que pode mais um sujeito querer da vida. Isso foi logo depois de foder a boceta dela falando as mais inescrupulosas cretinices em seus ouvidos e de eu ter tomado aquele banho gelado sem pressa nenhuma.
Não sei cara, tem uns sujeitos que passam a vida toda pensando em trabalhar e acumular eletrodomésticos, produtos eletrônicos, imóveis, casas, empresas e carros e sei lá o que mais para que? Um homem não precisa de muito a não ser, é claro, se for muito vazio por dentro.
E então ela vem e senta-se ao meu lado e começa com aquela mesma ladainha de sempre e por um momento eu penso, "e daí? eu também falo muitas bobagens de vez em quando". E durante algum tempo nós continuamos ali esfregando nossos pés uns nos outros e simplesmente relaxando e curtindo estar ali vivos e bem. Acho sinceramente de todo o meu coração que não preciso de muito mais do que isso.
Morpheus
quarta-feira, 20 de abril de 2016
UMA XÍCARA DE CHÁ DE MAÇÃ
Tomo um gole
de minha xícara de chá de maçã
e olho para o nada
O infinito é uma manhã ensolarada
que me aquece os pés
O momento político exige reflexão;
mas... (e há sempre um mas)
O aroma e o sabor do meu chá;
ah...
que bela manhã eu tenho diante de mim!
Que importa
uma plêiade de equivocados?
Quando vejo o fundo da xícara
ao beber
sei da iminente chegada da morte
Morpheus
sábado, 9 de abril de 2016
BEM QUISTO
Eu vou aonde sou bem quisto
por isso jamais insisto
nessa confluência desastrosa de corpos celestes minerais,
nessa confraria lunática de gente bem,
nessa reunião fingida e sofistica
que se arrasta pelo tempo inquebrantável do fim de semana
Eu só vou aonde sou bem quisto
do contrário
me esqueça, não mais existo
Eu só vou aonde sou bem quisto
aonde não me querem
certamente não serei visto
Morpheus
quarta-feira, 30 de março de 2016
SENHORITA "NEM"
- Pai, você é poeta?
- Sou.
- Então por que você não é famoso?
- Porque os poetas só ficam famosos depois que morrem.
- Mas pai...
- Talvez eu não seja um bom poeta, talvez eu seja um poeta ruim.
- Hum...
- Mas pai...
- Que?
- Eu não acho que você é ruim.
- É porque, na verdade, eu não sou.
- Então, por que você não é famoso?
- Precisa ser famoso prá ser poeta?
- Não sei, precisa?
- Ou precisa ser poeta prá ser famoso?
- Não sei.
- Tudo o que importa é que você está aqui comigo. Tudo o que importa filha, é que você me ama e que eu também te amo.
Morpheus
- Sou.
- Então por que você não é famoso?
- Porque os poetas só ficam famosos depois que morrem.
- Mas pai...
- Talvez eu não seja um bom poeta, talvez eu seja um poeta ruim.
- Hum...
- Mas pai...
- Que?
- Eu não acho que você é ruim.
- É porque, na verdade, eu não sou.
- Então, por que você não é famoso?
- Precisa ser famoso prá ser poeta?
- Não sei, precisa?
- Ou precisa ser poeta prá ser famoso?
- Não sei.
- Tudo o que importa é que você está aqui comigo. Tudo o que importa filha, é que você me ama e que eu também te amo.
Morpheus
domingo, 20 de março de 2016
NÓS
Não sou o dono da verdade
e você não está sempre errada
Nem sempre você é sincera
e eu não sou sempre tão egoísta
É o tempo que destrói tudo,
é a vida que consome o tempo
e que nos toma para si
enquanto tudo muda o tempo todo
E nós pensamos
que jamais mudamos
quando estamos sempre tão diferentes
Morpheus
quarta-feira, 9 de março de 2016
ABOUT ME AND YOU
a night is not enough;
a life maybe
or something more
be able to learn
i'd like to say or do
a sort of new
that lead me to breake up
and find out an universe
i have no tears to dry
and without asleep
i plan new moves at dawn
new plans to get down
and on and on and on
i go repeating mistakes
until the day
that i could put the final point
and start over writing a new begining
Morpheus
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016
SONETO SOBRE A RAIVA
A raiva se juntando, aglutinando
como úmida pelota de catarro;
incômodo bolo grudento de barro
A raiva comprimida, se condensando
ali, estorvando como um nó cego
amarrado bem no meio da garganta
e; mesmo que ignores, não adianta
A raiva ali fincada como um prego
rasgando as vísceras inermes
no pontiagudo pungir
de um corte eterno
sangrando alimento para vermes
que parasitam no existir
de seu próprio inferno
Morpheus
terça-feira, 9 de fevereiro de 2016
SONETO PARA UMA PESSOA IGNORANTE
Que importam as regras gramaticais
se te comportas como os animais?
Se escoiceas como um equino
Não ensinarás sequer um só menino
Se tomas a correção por petulância
demonstras apenas vossa ignorância
Se vociferas tal qual um brutamontes
então para ti eu cagarei aos montes
E vossa magistocêntrica figura
propala subserviência e prepotência
em lugar de humildade e eloquência
É da estupidez que fazes usura
para sentir-se superior e insuperável
assim seja meu desprezo por ti, inalienável
Morpheus
sábado, 30 de janeiro de 2016
ESTRANHAMENTOS
Pedi licença e saí para mijar. Entrei naturalmente no banheiro, me dirigi ao mictório, baixei o zíper, tirei meu pinto para fora e comecei a mijar com toda a tranquilidade do mundo. Encostei o braço no apoio da mureta que estava ali e quando olhei para baixo e notei o quanto era branca e limpa e iluminada aquela minha camisa social (que eu quase nunca usava) eu fiquei realmente impressionado. De repente era um insight. Tive aquele pressentimento. De repente tive a certeza de que aquela camisa social era a mesma que seria usada em meu enterro um dia. Era como se eu fosse um defunto olhando para a barriga. Logo me lembrei de um dia quando estava na igreja e observava todos os outros irmãos vestidos com seus ternos como se estivessem todos prontos para serem enterrados. Por que, no fundo, para muita gente a igreja não passa disso, uma preparação para a morte. E por um instante era como se eu estivesse sentindo o cheiro daquelas flores, aquelas flores de velório. E aquela sensação de morte começou a tomar conta de mim até que eu olhei para o meu pinto mijando lá embaixo e finalmente tive a certeza de que estava vivo. Eu mijava! Mortos não mijam. Graças a Deus eu estava vivo e bem. Então minha urina acabou e eu chacoalhei minha ferramenta e o guardei de volta nas cuecas. Fechei o zíper. Fui ao lavatório e lavei as mãos como um bom cavalheiro. Saí do banheiro para o mundo externo ainda como se estivesse sentindo o cheiro daquelas flores de enterro, era como se ao redor pairasse aquele aroma de jasmins e margaridas. Coisa estranha.
O que é que uma camisa social branca quase nunca usada pode fazer!
Morpheus
Morpheus
quarta-feira, 20 de janeiro de 2016
EU
Eu levo chuva onde não há
Se preciso for
Eu levo alegria onde não há
Se preciso for
Eu levo a mentira onde há a prepotência
Se preciso for
Eu levo
Eu faço
Eu crio, eu invento
Mas alguém já afirmou que os poetas estão todos mortos
E que estes versos mal escritos estão todos muito tortos
Morpheus
Marcadores:
alegria,
chuva,
criar,
eu,
i,
inventar,
me,
mentira,
myself,
poetas mortos,
prepotência,
versos tortos
Assinar:
Postagens (Atom)