Eu estava meio
deitado, meio sentado, com as costas apoiadas em alguma parede e sentindo uma
dor terrível no joelho direito. Eu
sentia um sol quente sobre mim, uma brisa leve batendo em meu rosto e um clima
de calor. Talvez fosse de manhã... eu
sentia que era um sol matinal sobre mim mas eu... eu não conseguia abrir os
olhos direito e ainda tinha aquele gosto de guarda chuva na boca. De repente abri os olhos e avistei algumas
pessoas caminhando pela praça e uma revoada de pombos e então fechei os olhos
novamente e soltei todo o peso do meu corpo naquela parede. Adormeci...
E então depois
de não sei quanto tempo eu percebi que estava caído num chão duro e comecei a
retomar minha consciência. Sentia uma
dor terrível no joelho direito, minha garganta doía, meu peito doía e então eu
me lembrei de que toda vez que vomitava eu ficava sentindo aquelas dores
terríveis no peito. Eu havia
vomitado? Talvez sim. O certo é que ainda sentia aqueles enjoos
terríveis. Abri os olhos novamente e
senti a luz quente do sol. Eu me sentia
fraco e observava os transeuntes pela praça; não estavam preocupados
comigo. Acho que nem eu mesmo estava
muito preocupado comigo. Virei-me para o
lado e deitei de bruços por um instante, meu estômago revirava e minha garganta
estava seca. Eu estava com calor e
tentava me lembrar do que havia acontecido.
Nós havíamos
chegado na noite anterior... sim, disso eu me lembrava agora mas... onde estava
Tininha? O Kléber, a Verônica e todo
mundo que tinha vindo com a gente. Lembrei-me
que tínhamos ido comer os tais brigadeiros de maconha e ficamos chapados e
depois fomos à confraternização e começamos a virar copos de vodka! Saímos de lá para ir até um bar onde vendiam
uma cerveja escura que o Daniel dizia ser ótima e... E depois? Eu não conseguia me lembrar de mais
nada. Eu havia bebido demais! Mais uma vez eu havia bebido demais e agora
nem sabia onde é que eu estava.
Lembrei-me! Eu não falava uma palavra de Holandês, como
faria para voltar para o hotel? Será que
eu estava muito longe do Hotel? Então
fechei os olhos. Queria adormecer novamente, mas não conseguia.
Eu não
podia continuar ali para sempre sentindo aquela dor insuportável no joelho e me
fodendo sozinho com aquela ressaca filha da puta! Eu precisava criar juízo, meu Deus! Abri os olhos novamente e olhei para cima
seguindo a parede onde eu me apoiava e que parecia se estender muitos metros na
direção do céu. Desencostei da parede
sentindo minha cabeça pesada e dei uma boa olhada ao redor. Havia umas barraquinhas estranhas um pouco
distantes de onde eu estava e que vendiam muitas bugigangas estranhas trazendo
um colorido imenso para todo o lugar.
Sem querer bati com a mão numa garrafa que jazia ao meu lado, havia sido
minha companheira na noite anterior, mas onde estavam os outros? Onde é que estavam os meus amigos? Eu podia ouvir as pessoas conversando naquela
linguagem diferente ao redor, era primavera e eu tinha enchido a cara. Desencostei da parede e dei uma boa olhada,
era uma igreja. Uma igreja bonita e
cinzenta e provavelmente muito antiga, talvez até fosse do período medieval,
embora eu não entendesse muito bem daquelas porras. Minha cabeça pesava, como é que eu ia
conseguir achar o caminho de volta para o hotel? Eu não sabia nem mesmo pedir uma
informação. Teria que me virar usando
meu parco inglês. O problema era que eu
não conseguia me lembrar o nome do meu hotel.
Eu queria me levantar dali e sair andando mas era como se eu não tivesse
coragem, acho que eu precisava apenas descansar mais um pouco. Encostei-me de novo na parede e passei a
contemplar o lugar. Eu estava tremendo
como uma vara verde e tinha vontade de cagar.
Algumas pessoas andavam de bicicleta por ali e eu me lembrei da minha
bicicleta há tantos milhares de quilômetros dali. Aquelas barracas eram mesmo diferentes, exóticas,
tinham todo tipo de produto à venda, botas, casacos, roupas, souvenirs,
brinquedos, chaveiros, abridores de latas, enfim. Um café do outro lado da rua me chamou a
atenção, eu tinha sede. Revirei os
bolsos e não encontrei nenhum centavo, será que havia sido roubado enquanto
dormia?
De repente
tomei coragem e me levantei num único impulso.
Fiquei atordoado e quase caí novamente, mas me apoiei na parede e
retomei o controle. Eu era jovem, era
forte, tinha que retomar o controle. Eu
tinha que manter as rédeas da minha vida, oras.
Saí andando por ali sem direção, eu era um estrangeiro perdido na
mixórdia de uma tarde primaveril europeia muito agradável se eu não estivesse
sofrendo a mais maldita das ressacas.
Acho que foi
uma das caminhadas mais extraordinárias que já fiz na vida. Perambulei por ali até encontrar uma placa
onde dizia Centrum Waterlooplein.
Caminhando mais um pouco cheguei até as proximidades do lago onde eu
pude finalmente ver o reflexo de meu rosto latino e miserável. Olhei para o céu novamente e roguei a Deus
para que me ajudasse.
Então me virei
novamente para a cidade, tinha Amsterdã à minha disposição e precisava
descobrir o caminho de volta para casa.
Morpheus